O que é o Arquétipo da Sombra?
Abordagem da psicologia (psicologia analítica ou junguiana):
Nas pesquisas de Jung sobre os mitos, os sonhos, as desilusões psicóticas e ainda o estudo de desenhos feitos por povos primitivos e por crianças, levaram-no à conclusão de que existe um outro inconsciente mais profundo, “o inconsciente colectivo”. Jung define-o como a memória de um conjunto de imagens ou de motivos, inata e comum a toda a humanidade. Chamou a estas configurações universais “arquétipos” porque se encontram em todas as civilizações. Para ele, a sombra era um desses arquétipos fundamentais.
Na Sombra (arquétipo) vive tudo o que o ego não quer, conteúdos reprimidos ou não reconhecidos que podem ser bons ou maus… A Sombra inclui aquelas tendências, desejos, memórias e experiências que são rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis com a Persona e contrárias aos padrões e ideais sociais. Quanto mais forte for nossa Persona, e quanto mais nos identificarmos com ela, mais repudiaremos outras partes de nós mesmos. A Sombra representa aquilo que consideramos inferior em nossa personalidade e também aquilo que negligenciamos e nunca desenvolvemos em nós mesmos. Em sonhos, a Sombra freqüentemente aparece como uma figura de categoria mais baixa. … a Sombra é o centro do Inconsciente Pessoal, o núcleo do material que foi reprimido da consciência.
…..A sombra aparece no sonho como uma figura escura, primitiva, hostil ou repelente, porque seus conteúdos foram violentamente retirados da consciência e aparecem como antagônicos à perspectiva consciente. Se o material da Sombra for trazido à consciência, ele perde muito de sua natureza de medo, de desconhecido e de escuridão. A isso se chama “integrar a sombra”, uma das metas da psicoterapia.
Jung
…. A persona representa nossa identificação com nossas personalidades e nossas habituações. Implica uma falta de consciência, sempre à custa dos aspectos autônomos do eu… uma falta de atenção aos potenciais mais profundos de nós mesmos, sejam eles positivos ou negativos. Assim, a persona representa atenção excessiva em nossa máscara social – nossas personalidades, nossos pensamentos, nossas opiniões, nossas crenças e nossos preconceitos.…. À medida que nos tornamos mais profundamente e conscientemente centrados em nossos corações, o reconhecimento e a integração dos processos inconscientes das sombras mudam nossos cérebros. … à medida que nos tornamos excessivamente e estreitamente identificados com a persona, a sombra – os aspectos autônomos do eu – começa a nos sabotar. Podemos estabelecer uma intenção consciente, e então surgirão processos inconscientes que parecem sabotar essa intenção consciente. Essa auto-sabotagem é uma tentativa da sombra (nossos aspectos não supervisionados) de chamar nossa atenção. Para resistir ao reconhecimento desses aspectos, a persona projeta a sombra para outras pessoas, coisas e situações.
A Sombra é mais perigosa quando não é reconhecida pelo seu portador. Neste caso, o indivíduo tende a projetar suas qualidades indesejáveis em outros ou a deixar-se dominar pela Sombra sem o perceber. Quanto mais o material da Sombra tornar-se consciente, menos ele pode dominar. Entretanto, a Sombra é uma parte integral de nossa natureza e nunca pode ser simplesmente eliminada. Uma pessoa sem Sombra não é uma pessoa completa, mas uma caricatura bidimensional que rejeita a bipolaridade bem e mal e a ambivalência presentes em todos nós.
À medida que a Sombra se faz mais consciente, recuperamos partes previamente reprimidas de nós mesmos e ganhamos mais saúde e ampliamos a construção de nossa autonomia. Além disso, a Sombra não é apenas uma força negativa na psique. Ela é um depósito de considerável energia instintiva, espontaneidade e vitalidade, e é a fonte principal de nossa criatividade.
Jung – Sobre o arquétipo da sombra: “Infelizmente, não há dúvida de que o homem não é, em geral, tão bom quanto imagina ou gostaria de ser. Todo mundo tem uma sombra, e quanto mais escondida ela está da vida consciente do indivíduo, mais escura e densa ela se tornará. De qualquer forma, é um dos nossos piores obstáculos, já que frustra as nossas ações bem intencionadas.”
“Ninguém se ilumina imaginando figuras de luz, mas se conscientizando da escuridão”.
“Todo indivíduo é acompanhado por uma sombra, e quanto menos ela estiver incorporada à sua vida consciente, tanto mais escura e espessa ela se tornará. Uma pessoa que toma consciência de sua inferioridade, sempre tem mais possibilidade de corrigi-la. Essa inferioridade se acha em contínuo contato com outros interesses, de modo que está sempre sujeita a modificações. Mas quando é recalcada e isolada da consciência, nunca será corrigida. E além disso há o perigo de que, num momento de inadvertência, o elemento recalcado irrompa subitamente. De qualquer modo, constitui um obstáculo inconsciente, que faz fracassar os esforços mais bem intencionados. “
“A sombra constitui um problema de ordem moral que desafia a personalidade do eu como um todo, pois ninguém é capaz de tomar consciência desta realidade sem dispender energias morais. Mas nesta tomada de consciência da sombra trata-se de reconhecer os aspectos obscuros da personalidade, tais como existem na realidade.”
….. Outra maneira de reconhecer nossa sombra é através da fenomenologia da sombra. Fenomenologicamente, a sombra aparece em nossa experiência em primeira pessoa como uma forte reação emocional a algo. Pode ser qualquer coisa ou alguém em nosso meio ambiente; muitas vezes é algo que é muito visível. Quando sentimos uma forte carga emocional, geralmente vem com algum tipo de tensão física ou contração. É assim que nos tornamos conscientes disso. Por exemplo, podemos tender a criticar alguém, ou podemos elogiar alguém, como em “Oh meu Deus, essa pessoa é simplesmente incrível! Não há como eu ser como eles ”. Eles representam duas fortes reações emocionais, uma negativa e outra positiva.
…. é nosso trabalho na vida nos aceitar plenamente e integrar nossa “sombra” em nossa personalidade. Desta forma, podemos estar cientes disso e trabalhar face a face com ela. Ignorar e permitir que permaneça no inconsciente pode nos privar do equilíbrio e da chance de sermos felizes…..
…….não existe como eliminar nossa face oculta sem assim estarmos indiretamente tentando eliminar nossos ideais mais elevados. Por isso Jung expõe que sempre devemos manter um diálogo com nosso aspecto sombrio, não o deixando nos possuir mas dando sempre um caminho aceitável (do ponto de vista ético) a essa nossa dimensão, sendo o Self, muitas vezes o arquétipo de tal integração. Vemos assim que o confronto com nossa sombra diz respeito a estruturação de nosso caráter, e em uma dimensão mais ampla, de nossa personalidade, possibilitando assim que ocorra a individuação, o tornar-se aquilo que se é…..
A integração da sombra na vida do indivíduo requer coragem lidar com o que não é agradável em si mesmo, além da resistência do ego em aceitar mudanças. Quanto mais forte for nossa persona, e quanto mais nos identificamos com ela, mais repudiaremos outras partes de nós mesmos.
Este sombrio arquétipo vem a ser o inimigo oculto da persona, pois a persona exerce a função de ser a vitrine que o indivíduo cria para mostrar à sociedade ao passo que a sombra é o porão escuro da psique que o indivíduo quer esconder desta.
… Suprimir nossa sombra não a derrota, apenas a empurra para fora da tela de nossa percepção consciente. …é reduzida e desaparece de vista, onde fica esperando até ativá-la novamente. … nossa sombra não vai a lugar nenhum quando o subjugamos nas regiões inferiores do inconsciente. Ele simplesmente fica em espera, aguardando uma nova oportunidade para fazer sua próxima aparição.
….a sombra não pode ser combatida, com ela é necessário que exista o confronto.
Confrontá-la é algo indesejado pelo ego, afinal é um choque ver como se é e não como gostaria de ser.
Mas a finalidade do confronto é para que o ego estabeleça uma relação diplomática com a sombra.
… Somente o conhecimento da sua presença na psique fará do indivíduo um mero espectador de seu lado sombrio.
Já a entrega à sombra fará do indivíduo um alguém movido por seu lado sombrio.
Confrontá-la significa percebê-la, entendê-la e integrá-la para que seja um aspecto da personalidade a ser usado de maneira favorável.
E, assim, alcançar um equilíbrio que se traduzirá em harmonia psíquica.
….. impossível erradicar a sombra; daí, o termo empregado mais freqüentemente pelos psicólogos analíticos para o processo do confronto com a sombra ….Visto a sombra ser um arquétipo, seus conteúdos são poderosos, marcados pelo afeto, obsessivos, possessivos, autônomos – em suma, capazes de alarmar e dominar o ego estruturado. Como todos os conteúdos capazes de se introduzir na consciência, no início aparecem na projeção e, quando a consciência se vê em uma condição ameaçadora ou duvidosa, a sombra se manifesta como uma projeção forte e irracional, positiva ou negativa, sobre o próximo. Aqui Jung encontrava uma explicação convincente não só das antipatias pessoais, mas também dos cruéis preconceitos e perseguições de nosso tempo.
No que concerne à sombra, o objetivo da psicoterapa é desenvolver uma conscientização daquelas imagense situações mais passíveis de produzir projeções de sombra na vida individual. Admitir (analisar) a sombra é romper com sua influência compulsiva.
P/ Erich Newman:
…..Longe de projectar nos outros as tendências desordenadas da sua sombra, o novo ser moral reconhece-as em si, assume a responsabilidade por elas e depois integra-as numa vida moral coerente.
…..A solução está no reconhecer, aceitar e abraçar as nossas imperfeições, sombras, bloqueios e necessidade humanas para assim poder integrar e então transcendê-las.
…. estratégias para integrar seu material sombrio e trazê-lo à luz da consciência. (Existem muitas abordagens para este aspecto da nossa jornada)…. Cada um de nós é único e exclusivamente criativo.
1) Reframe sua história sobre isso. Você lançou sua sombra como o vilão e você como sua vítima. A partir dessa perspectiva, você encerrou a possibilidade de aprender qualquer coisa que pudesse oferecer, que pudesse abrir novas possibilidades para se conhecer mais profundamente. Tente reformular sua sombra de vilão para professor e esteja aberto para o que ela pode ensinar.
2) Torne-se um buscador e busque suas lições. Não importa quão duro o material sombrio possa ser, abrigado nele é algo dourado. Como o grão de areia que irrita a ostra para produzir uma pérola, a sombra contém uma pérola oculta de sabedoria que exigirá que você vá além de sua capacidade atual de coragem para recuperá-la.
3) Chame seu blefe. Há uma história famosa sobre Milarepa, o santo tibetano, que chegou em casa uma noite depois de um longo dia no trabalho e encontrou sua casa cheia de dragões cuspidores de fogo. No início, ele os amaldiçoou e ordenou que eles saíssem, mas eles respiraram fogo ainda mais quente e se aproximaram dele. Ele continuou amaldiçoando-os e eles continuaram avançando em direção a ele. Finalmente, Milarepa parou e, em vez de xingá-los, deu as boas-vindas e os convidou para entrar em sua casa. Ao ouvir isso, todos desapareceram. Chame o blefe da sombra como Milarepa fez e veja o que acontece. Os leões se tornam gatinhos, os dragões se transformam em creme. Mas devemos ficar de pé e enfrentá-los primeiro. (Não tenha medo, mas esteja com as ‘ferramentas’ necessárias: anticonvencionalidade, autoresponsabilidade e auto amor)
4) Encene uma pausa na cadeia – mas com ajuda. Liberte-se da parede. Recebido no calor, o material sombrio é transformado de dragão cuspidor de fogo em servo humilde. …Sua doçura….
5) Procure suporte. Ninguém está isento dessa parte da jornada humana. Olhar em volta. Estamos todos substituindo alguma coisa, operando por cima, esperando que ninguém perceba. E se você fosse aquele que interrompeu nosso baile de máscaras coletivo e iniciou um diálogo sobre como podemos ajudar uns aos outros a encontrar nosso caminho no escuro?
6) Vá em frente assim mesmo. Vá em frente antes que “isso” vá para você! Como Milarepa, ouse enfiar a cabeça na boca do dragão e mandar cartões postais, e ao fazê-lo, ajudar a criar um mapa para os outros.
….Ao integrar um aspecto sombrio de nós mesmos, não nos tornamos mais dessa qualidade; pelo contrário, nos tornamos menos afetados pelas experiências que costumavam desencadear reações emocionais em nós. Ao trazer os aspectos reprimidos de nós mesmos à luz de nossa percepção consciente, ganhamos maior liberdade para responder de forma mais consciente, compassiva e engenhosamente naquelas situações em que costumávamos ser acionados.