20 poetisas brasileiras que você precisa conhecer
O Brasil está repleto de poetas e poetisas incríveis.
Por isto, separamos 20 poetisas brasileiras que você precisa conhecer!
20 Poetisas Brasileiras (Poesia Brasileira: Jéssica Iancoski/Toma Aí Um Poema)
VEJA TAMBÉM O LINK ABAIXO COM UM POUCO DA HISTÓRIA DESSAS MULHERES:
https://www.mundodek.com/2017/03/20-grandes-escritoras-brasileiras.html
1. Cecília Meireles
Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi uma jornalista, pintora, poeta, escritora e professora brasileira.
Ela nasceu em 1901 no Rio de Janeiro e faleceu em 1964.
Poema Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
A minha face?
2. Hilda Hilst
Hilda de Almeida Prado Hilst foi uma poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira.
Ela nasceu em 1930 em São Paulo e faleceu em 2004.
Hilda Hilst (Poesia Brasileira: Fotógrafo desconhecido/Toma Aí Um Poema)
Poema Dez Chamamentos ao Amigo
(Parte I)
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há um tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
3. Helena Kolody
Helena Kolody foi uma poetisa brasileira.
Ela nasceu em 1912 no Paraná e faleceu em 2004.
Poema Sonhar
Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
Aos páramos azuis da luz e da harmonia;
É ambicionar o céu; é dominar o espaço,
Num vôo poderoso e audaz da fantasia.
Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,
Engana, e menospreza, e zomba, e calunia;
Encastelar-se, enfim, no deslumbrante paço
De um sonho puro e bom, de paz e de alegria.
É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,
Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
É alçar, constantemente, o olhar ao céu profundo.
Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
Tão puro que não vive em plagas deste mundo.
4. Elisa Lucinda
Elisa Lucinda dos Campos Gomes é uma poeta, jornalista, cantora e atriz brasileira.
Ela nasceu em 1958 no Espirito Santo.
Elisa Lucinda (Poesia Brasileira: Fotógrafo desconhecido/Toma Aí Um Poema)
Poema Safena
Sabe o que é um coração
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até o auge de seu baticum?
Não, você não sabe de jeito nenhum.
Agora chega.
Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
aproximem-se!
Rolos, rolas, tinta, tijolo
comecem a obra!
Por favor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro
comece você primeiro passando verniz nos móveis
e vamos tudo de novo do novo começo.
Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora
apertem os cintos
Adeus ao sinto muito do meu jeito
Pitos ventres pernas
aticem as velas
que lá vou de novo na solteirice
exposta ao mar da mulatice
à honra das novas uniões
Vassouras, rodos, águas, flanelas e cercas
Protejam as beiras
lustrem as superfícies
aspirem os tapetes
Vai começar o banquete
de amar de novo
Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
Façam todos suas inscrições.
Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate
O homem que hoje me amar
Encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate.
5. Conceição Evaristo
Maria da Conceição Evaristo de Brito é uma escritora brasileira.
Ela nasceu em 1946 em Belo Horizonte.
Poema da Calma e Do Silêncio
Quando eu morder
a palavra,
por favor,
não me apressem,
quero mascar,
rasgar entre os dentes,
a pele, os ossos, o tutano
do verbo,
para assim versejar
o âmago das coisas.
Quando meu olhar
se perder no nada,
por favor,
não me despertem,
quero reter,
no adentro da íris,
a menor sombra,
do ínfimo movimento.
Quando meus pés
abrandarem na marcha,
por favor,
não me forcem.
Caminhar para quê?
Deixem-me quedar,
deixem-me quieta,
na aparente inércia.
Nem todo viandante
anda estradas,
há mundos submersos,
que só o silêncio
da poesia penetra.
6. Ana Cristina Cesar
Ana Cristina Cruz Cesar foi uma poeta, crítica literária, professora e tradutora brasileira.
Ela nasceu em 1952 no Rio de Janeiro e faleceu em 1983.
Poema Que Deslize
Onde seus olhos estão
as lupas desistem.
O túnel corre, interminável
pouco negro sem quebra
de estações.
Os passageiros nada adivinham.
Deixam correr
Não ficam negros
Deslizam na borracha
carinho discreto
pelo cansaço
que apenas se recosta
contra a transparente
escuridão.
7. Deborah Brennand
Deborah Brennand foi uma poetisa brasileira.
Ela nasceu em Pernambuco em 1927 e faleceu em 2015.
Poema A Rosa
Não estremeças a mão
desmancha ferozmente, igual ao vento,
estas pétalas de sangue, ainda vivas,
armadas na desordem de uma flor.
Quem fui? Que sou?
Agora, uma senhora antiga
que na tarde silenciosa de abril,
borda sonhos na forma
de perfeita e sangrenta rosa.
E tu quem és agora?
8. Adélia Prado
Adélia Luzia Prado de Freitas é uma poetisa, professora, filósofa e contista brasileira.
Ela nasceu em 1935
Poema Janela
Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à toa pintada,
janela jeca, de azul.
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em
você,
meu pé esbarra no chão.
Janela sobre o mundo aberta, por onde vi
o casamento da Anita esperando neném, a mãe
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,
claraboia na minha alma,
olho no meu coração.
9. Miriam Alves
Miriam Aparecida Alves é escritora brasileira.
Ela nasceu em São Paulo em 1952.
Poema Fumaça
Estou a toque de máquina
corro,louca, vôo, suo
a fumaça sou eu
Estou a toque de nada
vivo, ando
como a comida envenenada
e o comido sou eu
estou a toque de selva
os ferros torcidos, sacudidos
dentro de uma marmita
e a marmita sou eu
Nego, mas vivo dizendo
Sim
a tudo que me dói na cabeça
e o doido sou eu
Paro, mas estou sempre correndo
doem as pernas, os pés
e este corpo é o meu
Amanhã me encontra acordada
como a noite deixou
e o insone sou eu
Indago, mas não estou escutando
a pergunta anda solta
e ninguém explicou
que a resposta sou eu
10. Alice Ruiz
Alice Ruiz Scherone é uma poeta, haicaista, letrista e tradutora brasileira.
Ela nasceu no Paraná em 1946.
Poema Assim que vi você
Assim que vi você
Logo vi que ia dar coisa
Coisa feita pra durar,
Batendo duro no peito
Até eu acabar virando
Alguma coisa
Parecida com você
Parecia ter saído
De alguma lembrança antiga
Que eu nunca tinha vivido,
Mas ia viver um dia
Alguma coisa perdida
Que eu nunca tinha tido
Alguma voz amiga
Esquecida no meu ouvido
Agora não tem mais jeito,
Carrego você no peito
Poema na camiseta
Com a tua assinatura
Já nem sei se é você mesmo
Ou se sou eu que virei alguma coisa tua
11. Pagu
Patrícia Rehder Galvão foi uma escritora, poetisa, diretora, tradutora brasileira.
Ela nasceu em 1910 em São Paulo e faleceu em 1962.
Poema Um Peixe
Um pedaço de trapo que fosse
Atirado numa estrada
Em que todos pisam
Um pouco de brisa
Uma gota de chuva
Uma lágrima
Um pedaço de livro
Uma letra ou um número
Um nada, pelo menos
Desesperadamente nada.
12. Marina Colasanti
Marina Colasanti é uma escritora italo-brasileira.
Ela nasceu em em 1937 na Eritreia na e atualmente tem 82 anos.
Poema Sexta-Feira à Noite
Sexta-feira à noite
os homens acariciam o clitóris das esposas
com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro papéis documentos
e folheiam nas revistas
a vida dos seus ídolos.
Sexta-feira à noite
os homens penetram suas esposas
com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.
Sexta-feira à noite
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram seu destino
e sonham com o príncipe encantado.
13. Fernanda Young
Fernanda Maria Young foi uma escritora brasileira.
Ela nasceu em 1970 no Rio de Janeiro e faleceu em 2019.
Poema Crânio (Trecho)
As suas outras costelas me
encarceraram em seu plexo.
toc-toc-toc, bati com
timidez, logo que notei
Que deveria partir.
Ninguém abriu a porta.
Pedi, chorei, arranhei seu
interno. Nada.
Você não me quis, mas me
Prendeu. Você não me quis,
mas me costurou em você.
14. Cora Coralina
Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas foi uma poetisa e contista brasileira.
Ela nasceu em Goiais em 1889 e faleceu em 1985.
Poema Meu Destino
Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida…
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…
15. Clarice Lispector
Clarice Lispector foi uma escritora e jornalista ucraniana naturalizada brasileira.
Ela nasceu em 1920 na Ucrânia e faleceu em 1977 no Brasil.
Poema Sonhe
Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer.
Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.
16. Ana Maria Machado
Ana Maria Machado é uma jornalista e escritora brasileira.
Ela nasceu em 1941 no Rio de Janeiro e atualmente tem 78 anos.
Poema Primeiro Mar (Trecho)
Tantas páginas lidas muito antes Tantos livros que enchiam as estantes Tantos heróis a povoar os sonhos Tantos perigos, monstros tão medonhos
Nos tempos sem tevê e sem imagem Palavras fabricavam paisagem
Tesouros, mapas, ilhas tropicais, Argonautas, recifes de corais, Perigos na neblina entre rochedos, Vinte mil léguas cheias de segredos.
Histórias de naufrágio e abordagens, Ulisses, Moby Dick, mil viagens, Robinson, calmarias, um motim, Descobertas, veleiros, mar sem fim.
17. Myriam Fraga
Myriam Fraga foi uma poeta, jornalista e escritora brasileira.
Ela Nasceu na Bahia em 1937 e faleceu em 2016.
Poema Sete Poemas (Trecho I)
Não me deixes ficar,
Não me abandones
Neste ninho de abutres,
Neste burgo
Que espreita o mar
De cima de seus montes
Como fera que espreita,
Ave de rapina,
Atenta aos inimigos
Que surgem no horizonte.
Não me deixes ficar,
Não espedaces
O que ainda resta de mim,
Não abandones
A quem te deu o corpo
E o pensamento
E a quem pisaste um dia
Como pisa o dono
O chão de seus alquebres.
Não me esqueças aqui.
Arrasta com teu fado
Este bicho inocente
Que fareja teu rastro,
Esta pobre coisa triste
Que existe porque existes.
Ai, não me deixes não.
Apaga nos espelhos
A imagem que criaste,
O sono e o pesadelo.
Horas de sofrimento,
Instantes de alegria,
O açoite da chibata
E o bálsamo dos dedos,
O caminho para as Índias
E o rastro para o abismo
A curva de meu seio
Em tua mão tremendo,
Minha boca em tua boca
As sílabas repetindo
Deste amor que me trouxe
Como dote e destino,
Horas de sofrimento,
Instantes de alegria.
18. Adalgisa Nery
Adalgisa Maria Feliciana Noel Cancela Ferreira foi uma poetisa brasileira.
Ela nasceu em 1905 no Rio de Janeiro e faleceu em 1980.
Poema Patrimônio
Pesam nos meus ossos Os meus pensamentos, Choram nos meus olhos As visões neles crescidas, Soluçam no torpor das minhas carnes Ancestrais desalentos.
Sangram os meus pés Na inútil andança Da imaginação liberta, Pulveriza o meu espírito A solidão do suicida ignorado E cresce assustadoramente dentro de mim A calmaria que precede o fim.
19. Ruth Rocha
Ruth Machado Lousada Rocha é uma escritora brasileira.
Ela nasceu em 1931 em São Paulo e atualmente tem 89 anos.
Poema Pessoas São Diferentes
São duas crianças lindas
Mas são muito diferentes!
Uma é toda desdentada,
A outra é cheia de dentes…
Uma anda descabelada,
A outra é cheia de pentes!
Uma delas usa óculos,
E a outra só usa lentes.
Uma gosta de gelados,
A outra gosta de quentes.
Uma tem cabelos longos,
A outra corta eles rentes.
Não queira que sejam iguais,
Aliás, nem mesmo tentes!
São duas crianças lindas,
Mas são muito diferentes!
20. Bônus: Jéssica Iancoski
Jéssica Iancoski é uma escritora e poeta brasileira.
Ela nasceu no Paraná em 1996 e atualmente tem 24 anos.
Poema Pingam As Rosas Azuis
No criado-mudo repousam rosas azuis respeitando a neblina do silêncio.
Um Relógio pendula o tempo, debatendo-se
Oscilam-se os lados,
hora-esquerda,
hora-direita.
Uma rósa chóve outrá balançá
Desprende-se
e píngá ´´´´´´´´´´:
E cai nos azulejos
Pétalas deslizam como lágrimas regando de azul a superfície.
Então paro, me pergunto
E desabo-tou:
Quantás-batídás-até-que-se-caule?_ _ _ _ _