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A Interpretação dos astros pelos indígenas / povos originários

Como os indígenas brasileiros interpretavam os astros

Deusas e deuses da astronomia

Por Nathan Vieira  – https://canaltech.com.br/

Reprodução, Edição/Canaltech
Reprodução, Edição/Canaltech

Uma coisa que a humanidade sempre fez, independente de seu período, foi depositar a sua fé em alguma entidade superior. Na antiguidade, para os seres humanos, tudo era justificado com base nos deuses — desde os fenômenos da natureza até as emoções. E como grandes fãs da astronomia que somos, nós do Canaltech desenvolvemos a série de matérias chamadas Deuses da Astronomia, justamente para entender de que maneira os astros eram justificados pelas antigas civilizações. Nesta estreia, focamos na mitologia dos indígenas brasileiros.

Para entender melhor como os astros eram representados na mitologia indígena brasileira, conversamos com Felipe de Araújo, professor de Ciências do CEAT (Centro Educacional Anísio Teixeira). “A mitologia brasileira traz contribuições de muitos povos e origens diferentes, principalmente de três continentes: África, Europa e América do Sul. São muitos símbolos e histórias que se cruzam de forma que fica difícil delimitar a origem de alguns”, introduz o professor.

Nessa diversidade de visões de mundo, existem muitas ideias e alegorias sobre a morte e o renascimento, sempre diferente de sua forma original. Histórias de assombrações, mortos-vivos, almas de muitas categorias separadas de seus corpos, também são frequentes. Há uma série de figuras e entidades que velam por essa dinâmica de viver-morrer-renascer, que é a própria dinâmica da natureza. Figuras estas capazes do bem e do mal de muitas formas e muitos contextos. A ideia do bem do mal, da forma como muito de nós conhecemos, não é tão nítida assim na mitologia brasileira.

Além dos tupis e dos guaranis – dois dos grupos mais importantes –, ianomâmis, araras e dezenas de outros povos deixaram um legado mitológico que permanece vivo até hoje. “Cada tribo, cada etnia, cada civilização indígena tem sua própria mitologia. Cada uma conta uma história sobre sua trajetória como povo, e que não é a trajetória de nenhum outro. Existem, ainda assim, muitos aspectos comuns entre os povos. As referências centradas no Sol na Lua, nas estrelas, a água e as tempestades, os grandes heróis grandes civilizadores da humanidade, que se tornaram constelações, estão presentes em grande parte das mitologias ameríndias”, explica Felipe.

O professor reitera que a astronomia é um dos conhecimentos mais antigos da humanidade, e os povos indígenas usavam os astros não apenas como referência geográfica e temporal, como também histórica. Suas constelações representavam ancestrais, heróis e animais simbólicos. Mas como cada astro era representado nessa cultura tão rica?

Céu

Nas mitologias em geral, é comum que o céu seja sinônimo de uma divindade muito poderosa, suprema, geralmente criadora de tudo o que existe. Na mitologia indígena brasileira, isso não é diferente, e o céu se trata da divindade mais importante do panteão: Tupã, que é chamado pelo povo de “O Espírito do Trovão”. É válido observar que Tupã é não apenas o criador dos céus, como também da terra e dos mares, e até mesmo do mundo animal e vegetal.

A divindade em questão é conhecida por ensinar aos homens a agricultura, o artesanato e a caça, e concedeu aos pajés o conhecimento das plantas medicinais e dos rituais mágicos de cura. Os indígenas acreditavam que a voz deste ente supremo podia ser ouvida durante as tempestades. O trovão eles chamavam de “Tupã-cinunga” e seu reflexo luminoso de “Tupãberaba” (relâmpago). Eles acreditavam que Tupã era o deus da criação, o deus da luz.

O mito da criação envolve Tupã, que, com a ajuda da deusa Araci (deusa da aurora e das madrugadas), haveria descido à Terra em um monte da região do Aregúa (Paraguai), criando de lá tudo que existe (mares, florestas, animais, etc) e colocando as estrelas no céu.

Sol

O Sol também costuma ser muito importante nas mitologias, representado por divindades poderosas. No caso da mitologia indígena brasileira, quem responde por esse cargo é Guaraci, filho de Tupã. Segundo a lenda, esse deus Sol também auxiliou o pai na criação de todos os seres vivos, sendo considerado de grande importância para a existência (isso se deve ao fato de o Sol ser importante nos processos biológicos na natureza, no caso).

Guaraci é Irmão e também marido de Jaci, a deusa Lua, de quem logo falaremos um pouco mais. Vale ressaltar também que o deus do Sol é o guardião das criaturas durante o dia. A passagem do dia para a noite e vice-versa é considerado como o encontro entre Jaci e Guaraci, e ocasião na qual as esposas pediam proteção para os maridos que iam caçar.

Lua

Por causa dessa fé colocada em prática durante a passagem do dia para a noite, Jaci, a Lua, também é considerada a protetora dos amantes e da reprodução, implantando saudade no coração dos guerreiros e caçadores para que eles retornem às suas casas. Assim como Guaraci, Jaci também é filha de Tupã, mas algumas lendas atribuem Jaci como esposa do céu ao invés de esposa do Sol.

Vale ressaltar que a mitologia indígena brasileira tem uma lenda para a criação da noite: nas aldeias de todo o mundo, era sempre dia, e os homens nunca paravam de caçar, e as mulheres de limpar e cozinhar. O sol ia do leste ao oeste e depois fazia o caminho contrário, do oeste ao leste, sempre sem nunca desaparecer. Um dia, porém, quando Tupã havia saído para caçar, um homem tocou no frágil Sol para saber como funciona, e o Sol se quebrou em mil pedaços. A partir de então, as trevas reinaram nas aldeias, e Tupã, inconformado, recriou o Sol, mas este não voltava mais do oeste para o Leste, e por conta disso Tupã criou a Lua e as estrelas para iluminar a noite.

Constelações

O professor Felipe explica que os indígenas chamavam estrelas e constelações de forma completamente diferente. “As Plêiades, constelação usada por muitos povos para marcar a virada de ano, têm nomes diferentes em cada idioma indígena. Os planetas Vênus, Marte, Mercúrio, Júpiter enfim, também têm símbolos frequentes e são reconhecidos nos mapas estelares. O ciclo solar dividido em 11, 12 ou 13 ciclos lunares está presente não só na fala dos sábios de cada aldeia, como em muitas representações rupestres e líticas (gravadas nas rochas). Algumas constelações demarcam o início e fim de estações do ano, estações de chuvas, e portanto a hora de plantar, colher, pescar, festejar os mortos, enfim. Tudo mapeado nas estrelas”, afirma.

A própria Via Láctea, por exemplo, era conhecida como o Caminho da Anta pelos indígenas. Já quanto a constelações, a Cruzeiro do Sul servia para determinar os pontos cardeais, as estações do ano e a duração do tempo à noite, mas na mitologia indígena é a chamada de Beija-flor ou Colibri. Enquanto isso, as Plêiades são chamadas pelos tumpinambá de “Seichu”.

“Enquanto houver respeito e preservação da identidade cultural dos povos indígenas, a mitologia não morrerá. Ela é valiosa para o modo de vida, as visões de mundo e os rituais importantes da vida das pessoas e comunidades”, conclui o professor Felipe.

Astronomia Indígena – Astronomia cultural

Astronomia Indígena

O estudo da astronomia de povos antigos tem se fixado como uma linha específica de pesquisa científica, a qual foi denominada “Arqueoastronomia” ou “Astronomia Cultural”. As primeiras pesquisas nessa área tiveram inicio no século XIX com as explorações de sítios arqueológicos pelo mundo. No caso do Brasil, a astronomia indígena foi pouco estudada e menos ainda integrada dentro dos saberes dos próprios brasileiros.

O professor Germano Bruno Afonso é o principal pesquisador da área no Brasil. Em uma apresentação em 2009, o professor salientou a enorme importância da observação do céu para os grupos indígenas brasileiros, sendo uma característica que foi percebida por muitos missionários, naturalistas e etnólogos que aqui circularam.

Em 1612, o missionário capuchinho francês Claude d’Abbeville passou quatro meses entre os Tupinambá do Maranhão, da família Tupi-guarani, localizados perto da Linha do Equador. Seu livro Histoire de la mission de pères capucins en l’Isle de Maragnan et terres circonvoisines, publicado em Paris em 1614, é considerado uma das mais importantes fontes da etnografia dos indígenas do tronco tupi. Nesse livro, publicado dezoito anos antes do livro Diálogo, de Galileu, d’Abbeville escreveu: “Os Tupinambá atribuem à Lua o fluxo e o refluxo do mar e distinguem muito bem as duas marés cheias que se verificam na lua cheia e na lua nova ou poucos dias depois”.

Além disso, a maioria dos antigos mitos indígenas sobre o fenômeno da Pororoca, que traz uma grande onda do mar para os rios volumosos da Amazônia, mostra que ele ocorre perto da lua cheia e da lua nova, demonstrando o conhecimento, por esses povos, da relação entre as marés e as fases da Lua.

É bom enfatizar que somente em 1687, setenta e três anos após a publicação de d’Abbeville, Isaac Newton demonstrou que a causa das marés é a atração gravitacional do Sol e, principalmente, da Lua sobre a superfície da Terra. Esses fatos mostram que, muito antes da Teoria de Galileu, na qual não se considerava a Lua, os indígenas que habitavam o Brasil já sabiam que ela é a principal causadora das marés.

Alguns povos da era pré-colombiana chegaram a registrar seus conceitos astronômicos em livros. Mas essas obras acabaram destruídas pelos missionários europeus, que as consideraram demoníacos por tratarem os astros como divindades. (NAVARRO, 2010).

No Brasil, a arte rupestre pré-histórica é a fonte mais importante de informação que dispomos sobre os primórdios da arte. Existem alguns painéis de arte rupestre os quais além do Sol, da Lua e de constelações, parecem representar fenômenos efêmeros, como a aparição de um cometa muito brilhante, um meteoro, uma conjunção de planetas ou um eclipse (AFONSO, 2009) .

Para apreciar o céu:

Essa observação corriqueira do céu proporcionou uma cultura astronômica significativa. Houve nomeação de diversos astros e constelações. O planeta Vênus, conhecido entre os maias como Chak Ek’, foi um dos mais conhecidos pelos mesoamericanos e seu movimento no plano celeste foi registrado minuciosamente. Porém, o misticismo estava atrelado ao estudo do céu, e Vênus era também associado à guerra.

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Figura 1: A constelação da Anta, faça um exercício e a ache no nosso céu!

Os índios do Brasil também criaram constelações, e como feito por outros povos, as nomearam com a flora, fauna e lendas locais. Podemos ver nas figuras apresentadas, algumas constelações que podem ser identificadas no nosso céu.

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Figura 2: A constelação da Ema. As tribos aborígenes australianas tem uma constelação semelhante a essa.

A forma como os povos nativos expressavam suas lendas e conhecimentos do céu é extremamente diversa. A constelação do Homem Velho (Figura 4), por exemplo, conta a história de um índio velho que teve sua perna cortada, onde fica exatamente a estrela vermelha Betelgeuse, em alusão ao sangue que sairia da ferida. As tribos Kaingang tem sua própria lenda de formação da Lua. Para eles, a Lua e o Sol eram dois gêmeos semelhantes mas após uma briga o Sol teria furado o olho da Lua , que perdeu seu brilho e se afastou do irmão. O local do olho furado seria uma das grandes crateras vista a olho nu.

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Figura 3: A constelação de Veado se utiliza da conhecida constelação do Cruzeiro do Sul.

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Figura 4: A constelação do Homem Velho, conta a história trágica de um velho índio.

E por isso:

No caso da astronomia indígena brasileira, temamos que o conhecimento beire ao esquecimento. Com a dificuldade em manter agricultura e caça o fenômeno de migração para as cidades, por uma questão de própria sobrevivência, tende a forçar a saída dos jovens das tribos. Porém, sem a assistência necessária, temos o agravamento dos problemas sociais que são enfrentados por esses povos. Com esse quadro, as tradições e história indígenas acabam fragilizadas e, com o passar das gerações, tal conhecimento acabará extinto.

O valor pedagógico do ensino da astronomia indígena, promove autoestima e valorização dos saberes antigos, salientando que as diferentes interpretações da mesma região do céu, feitas por diversas culturas, auxiliam na compreensão das diversidades culturais.

A identidade histórica científica nacional deve ser valorizada, documentada, preservada e amplamente divulgada.

Referências

AFONSO, Germano B.; ASTRONOMIA INDÍGENA; 61ª Reunião Anual da SBPC Manaus- AM, 2009.

BASSALO, José Maria F.; A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA; Revista da Sociedade Brasileira da História da Ciência, n. 8, 1992.

DUSCHL, R. A.; RESEARCH ON THE HISTORY AND PHILOSOPHY OF SCIENCE; Handbook of research on science teaching and learning (pp. 443–465). New York: MacMillan.1994.

LIMA, Flavia P., FIGUERÔA, Silvia F.M.; ETNOASTRONOMIA NO BRASIL: A CONTRIBUIÇÃO DE CHARLES FREDERICK HARTT E JOSÉ VIEIRA COUTO DE MAGALHÃES; Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, vol.5, n.2, pp. 295-314, 2010.

LIMA, Flávia P.; ASTRONOMIA CULTURAL NAS FONTES ETNO-HISTÓRICAS: A ASTRONOMIA BORORO; I Simpósio Nacional de Educação em Astronomia – Rio de Janeiro – 2011.

MATTHEWS, M. R.; SCIENCE TEACHING: THE ROLE OF HISTORY AND PHILOSOPHY OF SCIENCE. London: Routledge,1994.

NAVARRO, Alexandre G.; A OBSERVAÇÃO ASTRONÔMICA NA AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA. Revista mensal eletrônica de jornalismo científico ComCiência, n.123, 2010.

ver também em: https://www.mat.uc.pt/mpt2013/files/tupi_guarani_GA.pdf

Mitos e usos das constelações indígenas

Por Leyberson Pedrosa Edição:Amanda Cieglinski Fonte:Portal EBC /2016/ – https://memoria.ebc.com.br/

Olhar para o céu sempre aguçou a imaginação dos povos. O ocidente se acostumou às constelações criadas na Grécia Antiga a partir da junção de estrelas: Áries, Capricórnio, Leão, Escorpião e muitas outras. Usadas na astronomia e na astrologia, essas constelações ocidentais não são unanimidade

Povos indígenas de todo o mundo – do Egito à América, sempre utilizaram as estrelas como uma espécie de agenda do clima e como bússola para orientação. Normalmente associadas aos rituais das tribos, as constelações indígenas foram fundamentais para a sobrevivência de diferentes etnias.

Mito ou astronomia? Saiba como os indígenas veem as constelações:
  • Ema

Inverno. Surge na segunda quinzena de junho, no lado leste. Os Tupinambá no Maranhão afirmavam que a ema procura devorar duas outras estrelas que ficavam perto do bico da ave. Quando Claude D’Abbeville entrevistou a tribo em 1612, ele chamou a constelação de Avestruz Americana. Mas como não havia avestruz no Brasil, a ave passou a ser chamada de ema.

É limitada pelas constelações ocidentais Cruzeiro do Sul e Escorpião.

Inverno. Surge na segunda quinzena de junho, no lado leste.

Início do inverno para os índios do sul do Brasil.

Início da estação seca para os índios do norte do Brasil.

O valor da mitologia como método de aprendizado:

Assim como os gregos, os indígenas sempre valorizaram o papel da mitologia em sua cultura, a começar pela relação com o sol. “Para nós, o sol e a lua são irmãos gêmeos que deram origem de tudo. É o princípio de tudo, assim temos que conhecer a origem, que é o mito do sol e da lua”, comenta Kerexu Yxapyry (Eunice Antunes), líder indígena da etnia Mbiá Guarani, que vive no Sul do país.

As histórias envoltas de cada constelação tinham um papel pedagógico para que as crianças indígenas se interessassem pelas constelações. “De todas, eu gosto mais da Ema, que significa a ave da sabedoria. A partir dela, temos conhecimento de todas as outras constelações”, destaca Kerexú.

De acordo com o mito, a Ema no céu quer devorar duas outras estrelas que ficam em frente a seu bico. Além disso, o Cruzeiro do Sul é responsável por segurar a cabeça da ave que, uma vez solta, poderia beber toda a água da Terra.

Seja ao amanhecer ou ao anoitecer, os povos indígenas buscam manter uma relação cotidiana com o céu. “No dia a dia, quando vamos fazer o nosso ritual à tarde, a gente se orienta muito pelo Cruzeiro do Sul”, conta Kerexu.

De acordo com o astrônomo Germano Afonso, os indígenas não separam o céu da Terra e muito menos a fé da ciência. Para os indíos, tudo que eles fazem tem algum tipo de aplicação prática. “Quando o ser humano parou de ser nômade, eles precisaram cultivar e, pra isso,  tinham que ter uma agenda. Então, eles olhavam para o céu e faziam as coisas na Terra”,  relaciona o astrônomo.

Contudo, Afonso alerta que, devido à globalização, esse saber corre o risco de se perder em pouco tempo. Afonso destaca como uma das causas a diminuição do interesse das novas gerações indígenas em relação ao conhecimento que os mais antigos mantém sobre o céu.

Na visão de Kerexu, a transmissão das informações astronômicas depende muito do local em que os jovens estão. “Quando a criança é criada em uma aldeia, ela recebe o conhecimento e não esquece. Mas quando moram fora e veem apenas outros conteúdos didáticos, elas perdem essa parte, sim”, compara.

Primeiros estudos no Brasil

Por volta de 1612, o missionário capuchinho francês Claude d’Abbeville acompanhou os indígenas Tupinambá do Maranhão e registrou 30 constelações conhecidas pelos indígenas da ilha (São Luís do Maranhão). Essas informações foram publicadas no livro “Histoire de la Mission de Pères Capucins en l’Isle de Maragnan et terres circonvoisins” em 1964 na cidade de Paris e é considerado umas das mais importantes fontes da etnografia dos Tupi.

A partir desses dados, Germano Afonso conseguiu encontrar semelhanças entre as constelações conhecidas pelos índios da América do Sul e pelos aborígenes australianos.  Até hoje, indígenas de várias regiões brasileiras também reconhecem a maioria das constelações  descritas pelos Tupinambá (extintos) ao missionário frânces.

*Trechos do documentário Cuaracy Ra’Angaba – O céu Tupi Guarani, dirigido por Lara Velho e Germano Bruno Afonso.

forma que os índios (Bororo) viam alguns objetos celestes, principalmente os planetas.

Os Astros (segundo os índios Bororo)

Bika Jóku – Marte
Bíka, anu-branco; ji, (d)ele; óku, olho [olho de anubranco]. Designação: 1. do olho de anu-branco; 2. do planeta Marte, vermelho como olho de anubranco.

Ikóro – estrela ou planeta da madrugada
Qualquer estrela ou planeta que, segundo as estações, costuma aparecer de madrugada no horizonte.

Ikúie – estrela

céu cheio de estrelas

Há uma lenda que narra que os corpos celestes não são nada mais do que rostos de meninos bororo que subiram ao céu por meio de um cordel. Ikuiéje (rosto dos possuidores do fio).

Ári – Lua

Ári Reaíwu – acompanhante da Lua
Qualquer estrela ou planeta que aparentemente acompanha a Lua. Ári, lua; reaíwu, aquilo que vem depois [astro que costuma acompanhar a Lua]. Conforme as estações e o horário, pode ser Vênus, Júpiter ou outro planeta.

Barógwa Tabówu – astro da madrugada
Qualquer estrela ou planeta que, segundo as estações, costuma brilhar de madrugada no horizonte. Barógwa, madrugada; tu, ela; abo, com; wu, aquele [aquele astro que aparece de madrugada].

Ikuiéje Kuriréu – Vênus

Lua e Vênus

Ikuiéje, estrela; kuriréu, o grande [grande estrela].

Ikuiéje Ukigaréu – cometa
Designação genérica de qualquer cometa. Ikuiéje, estrela; u, ela; kigaréu, o cornudo [estrela cornuda].

Kuiéje – Astro
Qualquer objeto celeste, exceto o Sol e a Lua.

Méri – Sol

Okóge Jóku – Aldebarã

Aldebarã constelação de touro

Okóge, peixe dourado; ji, (d)ele; óku, olho [astro bonito como olho de dourado].

Tuwagóu – Designação de certa estrela
Segundo o autor do estudo, Diones Charles Costa de Araújo, “não foi possível identificar o astro”.

Ikuiéje-doge Erugúdu – Galáxia (Via-Láctea)
Ikuiéje, estrelas; doge, suf. Pl.; e, (d)elas; rugúdu, cinza [cinza de estrelas i.e. cinza formada de estrelas].

Um fato muito interessante é que as constelações dos índios Tupinambás são muito semelhantes aquelas dos índios Guaranis (do sul do Brasil), que eram separados por quase 3 mil km em linha reta, por línguas (Tupi e Guarani) e pelo tempo (cerca de 400 anos). Mas o fato ainda mais intrigante é que algumas constelações dos índios brasileiros eram as mesmas de outros índios da América do Sul, e até mesmo dos aborígenes australianos.

Os índios brasileiros davam maior importância para a região da Via Láctea, onde localizavam-se suas principais constelações, que eram constituídas de estrelas e até nebulosas, principalmente as escuras. O céu dos índios era tão escuro e livre de poluição que eles até criavam constelações utilizando apenas as nebulosas escuras, que são bem visíveis apenas em céus muito escuros.

Assim como ocorre com a Astronomia ocidental, a Astronomia indígena também é muito extensa (e até mais complexa), afinal, estamos falando de várias etnias e culturas diferentes, e por isso, não teria como resumir tudo em um único artigo, por isso, nós do Galeria do Meteorito decidimos fazer uma série, e aqui você encontrá o link para todos os novos episódios. Posteriormente, teremos um guia com todas as matérias publicadas, tudo em um só lugar!

Para fazer essa série, uma grande pesquisa está sendo feita, e aqui poderemos encontrar diversas constelações indígenas, mas claro, apenas algumas, afinal, eles tinham mais de 100 constelações que eram passadas de geração à geração, e apesar de não haver muitos registros sobre isso, as constelações indígenas ainda são usadas por muitos povos até hoje.

Quando indagados sobre quantas constelações existem no céu, os pajés dizem que tudo que existe na Terra também existe no céu, assim, cada animal tem seu correspondente no céu e pode ser visto como uma constelação.

Essa é uma tentativa de não apenas informar, mas também de resgatar parte da nossa cultura ancestral, que é pouco divulgada, e apesar de ser muito rica em detalhes, ficou praticamente esquecida.

Tapi’i rapé – Via Láctea

Via Láctea indios
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Tapi’i rapé significa Caminho da Anta, e era assim que os índios brasileiros conheciam os braços da Via Láctea. Seu nome (Caminho da Anta) pode até soar estranho, mas a Via Láctea, que é a maneira que conhecemos, também tem sua estranheza, afinal significa Caminho do Leite. De qualquer forma, tanto a cultura grega quanto a indígena sul-americana viam os braços da nossa Galáxia como caminhos (de alguma coisa). Para os povos indígenas, a Via Láctea também representa a morada dos deuses.

Landutim (tupi) – Guirá Nhandu (guarani) – Constelação da Ema

constelação da Ema
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Segundo relatos do livro de d’Abbeville, “o povo tupinambá conhece uma constelação chamada de Landutim (Guirá Nhandu em guarani), e segundo os maranhenses, ela procura devorar duas outras estrelas, chamadas de ‘Uirá-Upiá‘ que ficam juntas, próximas da constelação”.

Quando Nadutim (Guirpá Nhandu) surge a leste, na segunda quinzena de junho, ela indica o início do inverno para os índios do sul do Brasil, e o início da estação seca para os índios do norte e nordeste.

constelação da Ema possui outra constelação indígena. Confira:

Mboi / Mboi Tatá (tupi) – Constelação da Cobra

constelação da cobra

A constelação que conhecemos como Scorpius é vista como uma cobra pelos índios, e é chamada de Mboi (cobra em guarani) ou Mboi Tatá (Cobra de fogo), popularmente conhecida como Boi Tatá (que por sua vez não tem nada a ver com boi), e sua cabeça começa com a estrela Antares.

Mboi Tatá é uma cobra de fogo de olhos brilhantes, que devora os olhos dos outros animais para que os seus se tornem cada vez mais reluzentes. Assim como Ema, Mboi também simbolizava o início do inverno e da estação seca.

Devemos admitir que é muito mais fácil reconhecer uma cobra nessa região do céu do que um escorpião.

Nesse terceiro episódio vamos conhecer a famosa Constelação do Homem Velho, a Constelação do Vespeiro, a Queixada da Anta e Joykexo. Confira!

Tuivaé (tupi) – Tuya’i (guarani) – Constelação do Homem Velho

Constelação do Homem Velho
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Essa constelação representa um homem segurando um bastão, ou cajado, por isso é visto como um “homem velho“. Quando o “Homem Velho” surgia na segunda quinzena de dezembro, indicava o início do verão para os índios do sul, e o início da estação chuvosa para os índios do norte e nordeste. A constelação do Homem Velho é formada pelas constelações ocidentais Tauros e Orion.

Segundo o mito popular, essa constelação representa um homem cuja esposa estava interessada no seu irmão, e para ficar com o cunhado, ela matou o marido cortando-lhe a perna. Os deuses ficaram com pena do marido, e o transformou em uma constelação.

constelação do “Homem Velho” possui outras 3 constelações indígenas, que vamos conhecer agora:

Eixu (guarani) – Constelação do Vespeiro – Plêiades

constelação do Vespeiro
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Eixu significa “ninho de abelhas” ou “vespeiro” em guarani, e marca o início do ano, quando surge pela primeira vez no lado leste, antes do nascer do Sol (nascer helíaco das Plêiades). na primeira quinzena de junho. Segundo d”Abbeville, os índios conheciam muito bem a constelação de Eixu, e quando ela chegava, eles comemoravam a chegada da chuva, que vinha logo depois. Era com essa constelação que eles contavam os anos.

Tapi’i Rainhykã (tupi) – Queixada da Anta

Constelação Queixada da Anta
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constelação de Tapi’i Rainhykã, que significa Queixada da Anta também simbolizava o início das chuvas para os tupinambás, no norte do país. Ela ocupa o espaço no firmamento que conhecemos como Hyades.

Joykexo – Constelação de Joykexo

Constelação de Joykexo
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Joykexo representa uma linda mulher, símbolo da fertilidade na cultura indígena. Essa constelação servia como orientação geográfica, pois ela nasce exatamente no leste, e se põe exatamente à oeste. Joykexo, além de ser o símbolo da fertilidade, também representa o caminho dos mortos. Joykexo é representada pelas estrelas que formam o Cinturão de Orion.

Constelação da Anta, Constelação do Veado e a Constelação da Canoa. Confira!

Tapi’i (guarani) – Constelação da Anta (Anta do Norte)

Constelação da Anta
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constelação de Tapi’i, que significa Anta em guarani. era conhecida principalmente pelas etnias de índios brasileiros que habitavam a região norte e nordeste do Brasil, uma vez que essa região do céu fica muito próxima do horizonte se vista do sul do país. Ela se encontra completamente na região da Via Láctea, ou melhor, na região de Tapi’i rapé (Caminho da Anta, como é conhecida pelos índios), e seu contorno realmente se parece muito com uma anta. Existem outras constelações que representam a Anta na Via Láctea, por isso essa é conhecida como “Anta do Norte“.

A constelação da Anta é formada pelas constelações ocidentais de Cepheus, Cisne, Lacerta e Cassiopeia. Quando a Constelação da Anta é vista por completo ao leste, na segunda quinzena de setembro, ela indica a transição entre o frio e o calor para os índios do Sul, e entre a seca e a chuva para os índios do norte do Brasil.

Guaxu (guarani) – Constelação do Veado

Constelação do Veado
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constelação do Veado (Guaxu em guarani) era conhecida principalmente pelos índios do sul do Brasil, tendo em vista que para os índios do norte e nordeste ela fica muito próxima do horizonte.

constelação do Veado ocupa a região do céu onde encontramos as constelações Vela, Carina, Musca e Cruzeiro do Sul. Quando o veado surge na segunda quinzena de março, indica a transição entre o calor e o frio para para os índios do sul do Brasil, e entre a chuva e a seca para os índios do norte e nordeste.

Yar Ragapaw (tenetehara) – Constelação da Canoa

Constelação da Canoa
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constelação da Canoa (Yar Ragapaw em tenetehara, idioma dos índios da etnia Tembé) indica exatamente a posição do ponto cardeal norte. A constelação da Canoa se encontra da região das constelações ocidentais Ursa Maior e Leão Menor, e era conhecida principalmente pelos índios do norte e nordeste do Brasil, uma vez que ela se encontra muito baixa no céu quando vista a partir do sul do país. Portanto, quando ela surgia para os índios do norte e nordeste em meados de março, indicava tempo de chuvas.

as constelações da Cobra e da Cobra Grande, e a curiosa Constelação da Onça. Confira!

Mboi (tupi) – Constelação da Cobra

constelação da cobra - mboi
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constelação da Cobra (Mboi) localiza-se na região do céu que conhecemos como Scorpius, ou constelação do Escorpião, porém os índios vêem Mboi sem considerar as garras do escorpião, sendo que a estrela Antares simboliza a cabeça da cobra. De fato é muito mais fácil ver uma cobra do que um escorpião nessa região do céu.

Mboi Guassu (tupi) – Constelação da Cobra Grande

constelação da cobra grande -mboi guassu
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Segundo a mitologia indígena, a Cobra Grande (Mboi Guassu) acordou faminta e saiu em busca de alimentos, comendo os olhos dos animais e das pessoas que encontrava, e posteriormente se tornou a Mboi Tatá, que já é outra constelação. A constelação de Mboi Guassu é vista em Taipi’i rapé (Via Láctea).

Yai (tukano) – Constelação da Onça

constelação da onça - yai
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constelação da Onça (Yai no idioma tukano) está dividida em cinco pequenas constelações, que seriam Yai siõkhã (estrela que ilumina a onça), Yai useka poari (bigode), Yai duhpoa (cabeça), Yai ohpu (corpo) e Yai pihkorõ (rabo).

Yai fica na região do céu onde encontramos as constelações de Cassiopéia, Andrômeda e Perseus. Infelizmente ainda não encontramos uma ilustração que mostrasse tal constelação, por isso, a imagem da constelação é apenas uma especulação de sua forma. Por outro lado, a região do céu está correta.

as duas constelações Wirar Kamy (Caminho da Cruz e Caminho dos Mortos), e a Constelação da Ema.

Wirar Kamy (tenetehara) – Caminho da Cruz ou Grande Relógio

caminho da cruz
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A primeira constelação Wirar Kamy é o Caminho da Cruz, que representa um grande relógio/calendário para os índios do Brasil, pois ela começa a ser visível no mês de março, deitada no horizonte com a parte de cima apontando para o leste, indicando o ápice da estação das chuvas e o fim da semeadura. Os rios ficam altos fazendo a pesca mais difícil, os frutos silvestres se tornam raros, e as doenças tropicais como malária se proliferam, e por isso, essa é considerada a época mais difícil para os índios.

Passados três meses, o cruzeiro se encontra bem alto no céu de junho, indicando o início do período da seca, fartura de colheitas, fartura de banhos de rios, pescas, agradecimentos aos deuses e iniciação das moças da aldeia. Já em setembro, quando a constelação de Wirar Kamy se aproxima do horizonte oeste no início da noite, indica o ápice da estação seca e o início do plantio para o próximo ano.

Wirar Kamy (tenetehara) – A Cruz dos Mortos

constelação Cruz dos Mortos
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A segunda constelação Wirar Kamy dos índios tenetehara é conhecida também como A Cruz dos Mortos. Ela se localiza na região do céu que conhecemos como Constelação de Orion, O Caçador. As estrelas conhecidas popularmente como Três Marias e a Nebulosa de Órion (M42) compõem essa constelação indígena. Ela nasce exatamente no ponto cardeal leste e se põe exatamente à oeste, percorrendo a linha equatorial, caminho dos mortos pela cultura indígena.

Wiranu (tenehara) – Constelação da Ema

constelação da Ema
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Quando a Constelação da Ema (Wiranu), que é a maior ave da Amazônia, aparece no céu noturno, ela indica o início da estação da seca, o que representa a época de colheitas principalmente para os índios do norte e nordeste do país. A cabeça da Ema é formada pela nebulosa escura Saco de Carvão, próximo do Cruzeiro do Sul. A cauda da Ema e grande parte de seu corpo é formada pelas constelações de Escorpião, Ara e Lobo.

Azim (Constelação da Siriema), Mainamy (Constelação do Beija-Flor) e Zauxihu-Ragapaw (Constelação do Jabuti).

Azim (tenetehara) – Constelação da Siriema

Constelação da Siriema - Azim

Quando Azim aparece na região alta do céu noturno, ela também indica o início da estação da seca, no mês de junho e julho. Ela encontra-se abaixo de Wiranu (constelação da Ema), onde encontramos as constelações ocidentais Coroa Austral, Telescópio, Sagitário e Escorpião. Um fato interessante dessa constelação é que algumas partes que a constituem (como o bico), são na verdade manchas claras e escuras da Via Láctea.

Siriema possui um penacho em sua cabeça, e os índios Tembé dizem que na constelação, a Siriema carrega seus dois ovinhos para que a Ema, a comedora de ovos, não os devore.

Mainamy (tenehara) – Constelação do Beija-Flor

constelação do beija-flor - mainamy

Conta a lenda que o chefe dos beija-flores (Mainamy) vê um lugar chamado Karu-Peahary, que era um lugar seco e sem água. E assim, a deusa Mayra com todos os beija-flores fez um poço para saciar a sede de Mainamy, que é representado pela região que encontramos a constelação ocidental de Corvo. Ela se encontra muito alto no céu entre o norte e o sul, e surge no mês de maio, ficando visível até setembro, época de festas nas aldeias Tembé-Tenetehara, que são comemoradas com banhos de rio e a Festa da Moça, que é um ritual de passagem das jovens e dos jovens índios para a vida adulta.

Zauxihu Ragapaw (tenetehara) – Constelação do Jabuti

Constelação do Jabuti - Zauxihu Ragapaw

constelação Zauxihu Ragapaw se encontra no lado norte do céu, ocupando a região que conhecemos como Coroa Boreal. A medida que o Jabuti vai percorrendo o céu noturno, entre maio e agosto, significa que os índios estão enfrentando o final da época das chuvas.

As Plêiades – Calendário dos índios brasileiros

Na cultura indígena, o ano se inicia quando nasce ao leste, antes do Sol, o famoso aglomerado de estrelas que conhecemos como Plêiades. Ou seja, para a maioria dos povos indígenaso ano começa em meados de junho (aproximadamente no dia 10), com o nascer helíaco das Plêiades.

Ano Novo dos ìndios
Imagem mostra o nascer helíaco das Plêiades, quando elas apontam no horizonte leste um pouco antes do Sol.
Créditos: Galeria do Meteorito / STELLARIUM

Mas claro que esse famoso aglomerado de estrelas é conhecido por outros nomes entre os índios brasileiros, e cada etnia fazia uma alusão diferente a esse objeto cósmico. E é exatamente isso que vamos conhecer agora:

Povo: Tembé-Tenetehara
Zahy Tata Pi’i Pi’i – As Estrelas Reunidas 
Na astronomia ocidental, essa região do céu é conhecida como as Plêiades, e localiza-se na constelação de Touro. É considerada um berçário de estrelas. A olho nu, podemos enxergar setes dessas estrelas. Zahy Tata Pi’i Pi’i significa estrelas reunidas, e segundo a cultura Tembé-Tenetehara, elas carregam uma maldição, e aquele que conseguir contar as sete estrelas morrerá no mesmo dia. No mês de novembro, quando elas surgem ao leste (durante a noite), os índios se preparavam para a estação das chuvas, que chegava alguns dias depois. Em meados de junho, quando ela desaparecia à oeste, significava o início da estação de seca.

Povo: Bororo
Akíri-dóge – Penugem Branca
Para os índios Bororos, que habitam no estado do Mato Grosso do Sul, o agrupamento de estrelas que conhecemos como Plêiades, é chamado de Akíri-dóge, que significa Penugem Branca, já que o aglomerado quando visto de soslaio se parece mesmo com uma névoa, mancha ou penugem branca. Akíri no idioma bororo significa penugem branca de qualquer ave. Alguns relatos dizem ainda que seu significado seja Angico Branco, uma árvore que durante a floração parece vestida de penugem branca. No fim de junho, ela também avisa o início da estação seca.

Os bororos realizavam uma festa chamada de Akíri-dóge E-wúre Kowúdu (Akíri-dóge = Penugem Branca; E = delas; wúre = pé; Kowúdu = queima), que significa “Queima dos pés da Penugem Branca”. Essa festa consistia em uma fogueira onde os índios cantavam, dançavam e passavam sobre o fogo, quase queimando seus pés, na intenção de pedir que a estação seca, (representada pelas Plêiades) fosse prolongada, favorecendo a vida nômade e suas tarefas.

Povo: Tucano
Ñohkoatero – Conjunto de estrelas
Para os povos Tucano, que habitam na Amazônia, o famoso aglomerado estelar das Plêiades também é muito importante para a contagem do ano indígena, e é chamado de Ñohkoatero (Conjunto de estrelas).

Povo: Tupinambá
Seichu
Assim como acontecia com as outras etnias, o nascimento do famoso aglomerado chamado de Seichu para os tupinambás simbolizava o início do ano e da estação seca.

Povo: Guarani
Eixu – Vespeiro
Já que estamos falando apenas da visão que vários povos indígenas tinham das Plêiades, vamos falar sobre Eixu, apesar de já ter sido citada em um episódio anterior. Eixu significa “ninho de abelhas” ou “vespeiro” em guarani, e assim como nas outras etnias, ela também marca o início do ano quando surge pela primeira vez no lado leste, antes do nascer do Sol (nascer helíaco das Plêiades).

existem mais de 100 constelações indígenas, e como são várias etnias e culturas diferentes, as constelações podem ter nomes, formas e histórias diferentes.

Índios Tukano

Os índios Tukano, localizados no noroeste da Amazônia, têm uma paixão muito profunda com o céu noturno e suas constelações, chamadas de ñohkoa mahsã (seres ou gente-estrela). Os tuaknos possuem uma lista de 9 constelações principais, que são chamadas de Ñohkoa Diarã mahsã. Confira uma ilustração das principais constelações tukano:

principais constelações povo tukano
Arte representa as principais constelações dos povos Tukano, Tuyukas e Dessanos. Créditos: AEITY/ACIMET

Algumas constelações possuem seus siõka (brilhos), que são estrelas mais brilhantes da constelação, que seria responsável pelo brilho dela toda. Algumas vezes, os siõka podem ser planetas. Os siõka podem ter nomes próprios e podem funcionar como constelações, por isso, recebem nomes especiais.

Confira as nove principais constelações tukano e a época de seu ocaso:

nomes das principais constelações povo tukano

A tabela abaixo reproduz o ciclo de constelações dos índios Tukano e Dessana do rio Tiquié, e indica também a região do céu em que estão situadas e a época do ocaso de cada uma delas:

constelações tukano

Algumas constelações que se põem na mesma época, quase juntas, são consideradas constelações parceiras, nohkoã bahparitirã.

Os eventos mitológicos que dizem sobre a origem dessas constelações narram histórias de personagens que foram mortos, cortados e lançados no céu, transformados em gente-estrela (ñohkoa mahsã), em constelações.

Índios Bororo

Os índios bororo conhecem o nome de várias estrelas (Ikúie) e constelações. Uma lenda diz que os espíritos Kogaekogáe-doge ensinaram aos índios a denominação dos astros e das constelações. Normalmente, suas constelações são constituídas por apenas quatro ou cinco estrelas, bem próximas umas das outras. Quando não há luar, suas constelações servem para determinar a hora da noite. As constelações mais utilizadas pelos bororo para marcar a hora da noite são aquelas que conhecemos como Cruzeiro do Sul e Plêiades.

Veja as constelações e manchas sidéreas bororo:

constelações índios bororo

Mais algumas constelações bororo:

constelações índios bororo

E também há alguns desenhos de constelações bororo

imagens de constelações índios bororo

Nesse décimo episódio vamos conhecer a maneira que os índios vêem o Sol, e saber da importância que ele representa para os índios brasileiros, como para a contagem do tempo. Confira!

Sol

Povo: Tupi-Guarani                   Povo: Tembé-Tenetehara                 Povo: Bororo
Guaraci (ou Quaraci)                 Kwarahy                                             Méri

o Sol dos índios

O Sol também é visto da forma masculina entre os índios. Assim como para outros povos antigos, o Sol era (e ainda é em algumas tribos) visto como um grande deus, afinal, é o Sol que dá a luz, fornece as condições necessárias para o cotidiano de todos, e principalmente, o Sol é o astro responsável pela vida na Terra. É de acordo com o caminho traçado pelo Sol que os índios enterram seus mortos, constroem a casa do Cacique e descobrem a época do ano, assim como o horário do dia.

O Sol descreve dois movimentos aparentes, que é o diário (leste-oeste) e outro na linha do horizonte, a cada dia mais ao sul ou ao norte. Ao observar esses movimentos, os índios sabem a hora do dia (movimento leste-oeste) e as estações do ano (posição mais ao norte ou ao sul durante a alvorada e o ocaso).

Como a região sul do céu é mais rica em estrelas, a frente da casa dos caciques fica voltada para o sul. Para os índios Tembé-Tenetehara, o surgimento do Sol no horizonte leste é chamado de Kwarahy-Hem-Haw (Sol do início do dia), e no final do dia, quando se põe à oeste, é chamado de Kwarahy-Wixw-Haw (o Sol que encerra o dia).

O Sol nasce sempre no lado leste do céu, porém não é correto afirmar que isso ocorre sempre na mesma posição. Esse fato é conhecido pelos índios que observam esse deslocamento sutil do Sol, e por isso, conhecem as estações do ano. No início da estação seca, ele surge e desaparece mais ao norte, e no início da estação das chuvas, o Sol nasce e se põe mais para os lados do Sul. Ou seja, apenas observando a posição da alvorada e do ocaso do Sol, os índios identificam o início e o fim das estações do ano. Para perceber essa mudança sutil, eles utilizam árvores ou pedras para marcar as posições dos astros de acordo com um determinado ponto de vista.

As estações do ano (Tembé-Tenetehara)

Kwarahy – seca
Aman – chuva

Kwarahy, além de ser o nome do deus Sol, é o nome da estação seca para os índios Tembé-Tenetehara. Essa estação se inicia próximo do dia 21 de junho. Já Aman (estação das chuvas), inicia-se por volta do dia 21 de dezembro.

Gnômon

Gnomon - relogio solar indigena

Desde a antiguidade, gregos, romanos, e vários outros povos também utilizavam esse dispositivo para marcar o tempo nos dias ensolarados. Observando a sombra da haste de madeira projetada no chão, podemos saber a duração do dia, os períodos matutino e vespertino (separados pelo meio-dia), além de determinar os pontos cardeais.

Os índios Tembé-Tenetehara utilizam o gnômon, que é basicamente uma haste a 90° em relação ao solo, em local aberto, para que a luz do Sol faça com que a sobra da haste projetada no chão indique o horário do dia. A eclíptica (movimento que o Sol descreve no céu) é conhecido pelos Tembé-Tenetehara como Kwarahy-Kamy (caminho do Sol).

Horas do dia (Bororo)

Merirutu tabo
O nascer do Sol

Meri dieta pagogwa kejede tabo
O Sol está no nível da boca
Logo após o nascer do Sol

Meri paidiaka kejede tabo
O Sol está no nível dos olhos
De manhã cedo

Meri dieta pagudo kejede tabo
O Sol está no nível da testa
Do meio da manhã até antes do meiodia

Meri dieta pagaia kejede tabo
O Sol está em cima da cabeça
Meio-dia

Meri terawuji pagawora diokido tabo
O Sol está em nosso cangote (Sol atrás da cabeça)
Primeiras horas da tarde

Meri diati pagabara kejede tabo
O Sol está no rumo do nosso cangote
Meio da tarde

Meri diati pagidoru kejede tabo
O Sol já está no pescoço
Meio pro Fim da tarde

Meri rekodu tabo
Já correu o Sol
Fim da tarde

Meributu tabo
Pôr-do-Sol

Além de estar presente em mitos e lendas, podemos perceber que o Sol era (e ainda é) muito observado pelo índios brasileiros, e tem um papel fundamental em seus métodos de contagem do tempo, servindo ainda como guia para criações, construções e trabalhos feitos na aldeia.

a maneira que os índios vêem a Lua, e como ela é importante na cultura indígena brasileira.

Lua

Povo: Tupi-Guarani                Povo: Tembé-Tenetehara                      Povo: Bororo
Jaci                                           Zahy                                                        Ári

A Lua astronomia dos indios

Para os índios Tupi-Guarani, a Lua é chamada de Jaci, deusa da noite, e teria sido criada por Tupã (deus dos trovões). Já para os índios Tembé-Tenetehara e Bororo, a Lua é vista como masculino, pelos nomes Zahy e Ári, respectivamente. Para todos os índios, a Lua é responsável pela contagem dos meses. O mês dos índios começa logo após a Lua Nova, quando o primeiro filete de Lua Crescente se apresenta após o pôr-do-Sol. De acordo com o grande astrônomo brasileiro Ronaldo R. F. Mourão, “o ciclo lunar corresponde a 29 dias e meio, denominado evolução sinódica ou lunação”.

A Lua também indica os dias ideais para pesca, plantio, caça, etc… Entre a Lua Cheia e a Lua Nova está a melhor época para pesca, caça e plantio. Já entre a Lua Nova e a Lua Cheia, os animais ficam muito agitados, pois a cada dia as noites se tornam cada vez mais claras. A Lua também indica as marés, e assim, os índios sabem a melhor hora para pescas em alto mar, por exemplo.

Quando o mês dos índios se inicia, com o primeiro filete clareado após a Lua Nova (à oeste), é comum avistarmos o planeta Vênus, conhecido por nós como Estrela Vesper, e pelos índios como Zahy Imiriko (mulher da Lua). Já quando o planeta Vênus é visto pela manhã, pouco antes do nascer do Sol à leste, para nós ela é popularmente conhecida como Estrela D’Alva, e para os índios como Zahy-Tata-Hu (estrela que anuncia o Sol).

O Mito de Zahy (Tembé-Tenetehara)

A maioria dos mitos foram criados para ajudar os homens a identificar os objetos celestes e passar o conhecimento de geração à geração, servindo como método mnemônico, a fim de repassar condutas morais e sociais para as gerações futuras. O mito da Lua contado pelos índios Tembé (da família Tupi-Guarani) explica porque a Lua existe e o porquê de suas crateras/manchas na superfície.

Em uma época em que as noites eram escuras e não tinha o brilho da Lua/Zahy, nasceu um jovem índio chamado Zahy, filho do cacique mais respeitado que seu povo tivera. Seu pai, um velho índio, apesar de já ter dormido com muitas mulheres, nunca abandonara sua primeira esposa. Para a tristeza de toda a nação, esse casal não conseguia ter filhos, e quando ninguém mais acreditava nessa possibilidade, nasceu o famoso menino Zahy, abençoado por todos os deuses.

Mas o menino Zahy logo cedo quebrou seu destino de honrar o pai, e as leis da tribo. Quando jovem, o menino desejou uma mulher proibída: sua tia. Seu pai, o cacique, já havia determinado o destino de sua irmã (tia de Zahy) para outro rapaz, mas mesmo assim Zahy não controlou seu amor. Sempre que a noite chegava, o índio Zahy entrava no quarto de sua tia para passar a noite com ela. A tia, inconformada com a situação e sem saber quem era o intruso, pediu conselhos para a índia mais velha da tribo, e então, fez uma armadilha para descobrir quem era o intruso que se aproximava todas as noites. Por isso, preparou uma tigela de jenipapo, que com urucum é usado para pinturas corporais.

Caindo na armadilha da tia, Zahy correu para o rio e foi tentar tirar o jenipapo que manchou seu rosto, a fim de não ser descoberto. Foi então que os deuses, a tia e a velha índia descobriram quem era o intruso. Zahy trouxe vergonha para seu pai, e por isso se exilou no céu, que era o lugar mais distante conhecido.

Mito Zahy Lua Índios
Créditos: blog aikewara

Até hoje, para tentar tirar as manchas de seu rosto, o menino Zahy (Lua) desce no rio todos os meses na Lua Nova para lavar seu rosto. Quando se torna Cheia, ele percebe que suas manchas não desapareceram, e numa tentativa de limpar o rosto, faz chover para tentar tirar suas manchas (na Amazônia é comum chuvas rápidas durante as noites de Lua Cheia), e depois, desce novamente e se esconde, que é quando o ciclo se repete.

Os índios acreditam que Zahy favorece o crescimento das crianças, das plantas e dos animais domésticos. Existe ainda o ritual chamado de Encarcamento, que é quando os mais velhos costumam apresentar seus filhos para Zahy no primeiro dia de Lua Cheia, apertando suas articulações e cantando para que ele abençoe as crianças a as façam crescer fortes e saudáveis. As mulheres mostram suas tapiocas para Zahy pedindo que a mandioca cresça saborosa. As árvores menores são sacudidas pelo tronco para que deem frutos sadios e gostosos, e os animais jovens são levados para danças para que possam dar leite, carne e couro de qualidade para todos.

Os índios possuem uma ligação muito forte com a Lua. O mito (africano) do Saci Pererê, por exemplo, é na verdade uma versão do mito original do Jaci Jaterê (dos índios brasileiros). Para os guaranis, Jaci Jaterê significa literalmente “Fragmento da Lua”, e seria uma espécie de protetor das matas.

arte rupestre astronômica deixada pelos antigos nativos, e que estão espalhadas em diversas regiões do Brasil. E qual é a importância dessas pinturas e desenhos tão antigos?
pinturas rupestre no Brasil - Parque Nacional da Serra da Capivara, Brasil

Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara, Brasil.
arte rupestre é formada por pinturas ou gravuras deixadas pelo homem pré-histórico sobre superfícies de rochas, grutas, canyons, etc… A arte que chamamos de “rupestre” é conhecida como Itacoatiara em tupi-guarani, e significa pedra pintada.Através de estudos e pesquisas da arte rupestre, podemos conhecer o nosso passado, entendendo como outras culturas e povos antigos viam o céu, seu meio-ambiente, sua cultura, seu dia a dia e sua realidade. O mundo todo conhece a arte rupestre dos aborígenes australianos, dos africanos, mas infelizmente, a arte rupestre deixada pelos antigos índios da América do Sul não são amplamente divulgadas ou estudadas, principalmente a arte rupestre astronômica, já que são mais difíceis de serem interpretadas.Alguns desenhos antigos podem ter semelhanças surpreendentes com outras pinturas feitas em continentes e regiões distantes, como é o caso de uma gravura com um círculo no centro e uma circunferência em volta e repleta de raias ao seu redor, encontrada em Boa Esperança, no Paraná. Em Carschenna, nos Alpes Suíços, por exemplo, existe um desenho muito parecido, que os arqueólogos estrangeiros estudaram e concluíram que trata-se de uma representação solar, assim como aquela encontrada no Brasil.De acordo com a datação e com a interpretação de um dos desenhos, por exemplo, podemos perceber que os índios observaram um grande cometa muito antes da chegada dos europeus. Atualmente, este local está submerso pelas águas da Usina de Salto Caxias. Provavelmente, assim como ocorria com outras culturas antigas, esse cometa pode ter amedrontado os nativos, e muitos rituais, danças e orações devem ter sido feitas em decorrência do grande cometa, que é um objeto único, diferente de tudo que vemos normalmente durantes as noites.A professora Maria Beltrão, coordenadora do Projeto Central, na gruta do Cosmos, no município de Central, Bahia, observou um painel com pinturas rupestres astronômicas, e uma delas parecia retratar a queda de um meteorito. A maioria das pinturas dessa gruta são semelhantes às de Boa Esperança do Iguaçu, e de outras existentes em diversas partes do mundo.Agora nós vamos conhecer um painel com algumas gravuras (réplicas) daquelas encontradas em morros, rochas e grutas espalhadas pelo Brasil. Com certeza, essas são apenas algumas de muitas que existem, mas que infelizmente não são muito exploradas.
Arte rupestre do Sol
Arte computacional de gravura rupestre representando o Sol
(Boa esperança do Iguaçu – PR)
Arte computacional de gravura rupestre representando um eclipse solar
(Boa Esperança do Iguaçu – PR)
Arte computacional de gravura rupestre representando a Lua
(Boa Esperança do Iguaçu – PR)
Arte computacional de gravura rupestre representando uma constelação
(Boa Esperança do Iguaçu – PR)
Arte computacional de gravura rupestre representando uma conjunção de planetas
(Piraí do Sul – PR)
Arte computacional de gravura rupestre representando um cometa
(Boa Esperança do Iguaçu – PR)
Arte computacional de gravura rupestre representando um meteoro ou a queda de um meteorito
(Central – BA)
Arte computacional de gravura rupestre, possivelmente representando o ciclo dia e noite
(Central – BA)Arte computacional de gravura rupestre com uma circunferência e pequenos círculos, ainda sem possível interpretação. (Boa Esperança do Iguaçu – PR)
Arte computacional de gravura rupestre representando um pequeno círculo e circunferências concêntricas, ainda sem possível interpretação. (Boa Esperança do Iguaçu – PR)
A Rosa dos Ventos dos índios Ainda segundo o físico, astrônomo e pesquisador da arqueoastronomia, Germano Bruno Afonso, os índios guaranis têm uma rosa dos ventos. Segundo relatos dos índios, no céu existiam palmeiras azuis representando os quatro deuses (os quatro pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste), e suas quatro esposas (os pontos colaterais: nordeste, sudeste, sudoeste e noroeste) formando uma rosa dos ventos. Durante uma de suas explorações, encontraram um rosa dos ventos, em Itapejara D’Oeste, na beira do rio Chopim. Tratava-se exatamente de um círculo de palmeiras. Um teodolito (instrumento de precisão de ângulos) confirmou que as direções estavam corretas, com ângulos perfeitos e simétricos.Através da Arqueoastronomia e da Etnoastronomia, podemos perceber a riqueza de sociedades antigas através de uma perspectiva única. Com isso, percebemos também a pluralidade cultural e a necessidade de respeitar essas diferenças. Quando as pessoas olham para o céu, elas não enxergam apenas agrupamentos de estrelas, mas sim histórias, imagens e símbolos que estão presentes em seu cotidiano. Essa exteriorização de sua cultura, estampada no firmamento celeste, em artefatos e desenhos, não só ajuda na conclusão de tarefas do dia a dia, mas também eterniza suas crenças, seus valores e costumes.

Para saber mais:

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