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História das Mulheres Cientistas no Brasil

A História das Mulheres Cientistas no Brasil
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No século XX, as mulheres conseguiram avançar no sistema educacional, venceram o analfabetismo e ingressaram nas universidades – instituições estas que configuram o passaporte para o ingresso na carreira científica. No entanto, o mundo da ciência ainda permanece um reduto masculino, no Brasil e no mundo. Há quase uma “invisibilidade” das mulheres nos campos dos saberes científicos – da matemática, ciência considerada pelos antigos como a ferramenta para a explicação do mundo, aos demais campos científicos, nos quais observa-se que a presença feminina aparece esparsa ao longo dos séculos. Schiebinger [12] afirma que o acesso restrito das mulheres às carreiras científicas deve-se ao fato de que os homens são educados para a esfera pública e as mulheres para a privada, que a estrutura social é dirigida pelos interesses e poder masculino. E que o ideal do modelo materno serve mais aos homens que precisam de mão de obra gratuita para cozinhar, lavar e cuidar dos filhos e não a elas que, como mães e donas de casa, têm sustento gratuito (p. 13). Mas esse papel coloca a carreira da mulher em perigo, pois a restringe ao espaço doméstico.

Por que os inventos científicos são sempre creditados aos homens e a história da ciência registra apenas nomes masculinos? Estas incômodas questões levantadas por feministas trouxeram, sem sombra de dúvida, mudanças ao campo científico desde a segunda metade do século XX. A exumação e o sepultamento de Marie Curie (1867-1934) no Panteão em Paris, em 1995, quando se tornou a primeira mulher sepultada nesse local destinado aos heróis, não aconteceu por acaso: deve-se à insurgência feminista de nossos tempos.

É necessário que as crianças e os jovens conheçam os nomes de mulheres que, mesmo esquecidas, estiveram nos meios acadêmicos. E saibam que as mulheres não estiveram ausentes no desenvolvimento da matemática e das ciências no mundo ocidental, e que no Brasil não foi diferente. As bases das lutas feministas modernas explodiram no mundo desde 1792, quando Mary Wollstonecraft (1759-1797) publicou Reivindicações dos direitos da mulher, proclamando o direito à educação e o direito à igualdade de oportunidades [13]. Embora a história das mulheres nas ciências tenha avançado desde a segunda metade do século XX, elas não se tornaram cientistas apenas no século passado. Até o fim do XVIII não era necessário ter acesso à educação universitária para se trabalhar com ciência. Como poucas pessoas eram remuneradas para exercer esses ofícios, permitia-se que mulheres trabalhassem nos círculos científicos. Paradoxalmente, as universidades, desde o século XII até o final do século XIX, impuseram a exclusão ou restrições variadas para aceitarem mulheres em seus cursos e pesquisas [12].

Além de Hipatia, nascida provavelmente no ano 370 da era cristã e que lecionou geometria em Alexandria (Egito) – e foi trucidada por fanáticos em 415, devido aos seus conhecimentos científicos que afrontavam a sociedade daquela época -, poucas foram as mulheres que conseguiram furar o bloqueio e estudaram ou lecionaram em universidades naqueles séculos. No entanto, sempre se encontram exceções e a historiografia registra algumas dessas mulheres: a filósofa italiana Elena Priscopia (1646-1684), a física Laura Bassi (1711-1778), a italiana Maria Gaetana Agnesi (1718-1799), a francesa Gabrielle-Emilie, marquesa Du Chatelet (1706-1749). No século XIX, a inglesa Ada Lovelace (1815-1852) e a russa Sonja Kovalevsky (1850-1891); e no albor do século XX, Amalie Emmy Noether (1882-1935), matemática que revolucionou a álgebra moderna. Essas mulheres foram, na sua grande maioria, de origem nobre ou filhas de comerciantes enriquecidos, o que possibilitava esse tipo de comportamento, mas o privilégio dava apenas acesso limitado ao mundo do poder e do conhecimento. Só depois de 1870 é que as mulheres conseguiram ingressar em cursos universitários, agora um pré-requisito fundamental para ingressarem nas carreiras científicas.

 

No Brasil

As primeiras instituições de ciências exatas e tecnológicas brasileiras surgiram no final do reinado de Pedro II, com a fundação, em 1874, da Escola Politécnica na cidade do Rio de Janeiro. No entanto, desde a chegada da corte portuguesa já tinham sido fundadas as Escolas de Medicina e Cirurgia, no Rio de Janeiro e na Bahia. Em 1827, foram criadas as Academias de Direito de São Paulo e Olinda (PE). Em 1829 foi criada a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro com a finalidade de promover o aperfeiçoamento dos conhecimentos médicos no país (com a República, o nome da entidade mudou para Academia Nacional de Medicina). Em 1845 foi criado o Imperial Observatório do Rio de Janeiro, atualmente chamado Observatório Nacional, e, em 1885, em Belém do Pará, o Museu Paraense Emílio Goeldi. Em Campinas, o Instituto Agronômico foi criado em 1887. Já na República, o Instituto Bacteriológico de São Paulo foi fundado em 1893 e a Escola Politécnica de São Paulo, em 1894. Ainda nessa mesma cidade, foram criados a Escola Presbiteriana de Engenharia Mackenzie, em 1896, e o Instituto Butantan, em 1899. O Instituto Soroterápico Municipal de Manguinhos, criado em 1900, foi transformado, em 1907, no Instituto Oswaldo Cruz. Os pesquisadores e professores eram na sua maioria estrangeiros, e os poucos brasileiros tinham se graduado no exterior. Homens e brancos atuando nas áreas de astronomia e ciências naturais.

A exceção que deve ser lembrada é a presença da cientista Emilia Snethlage (1868-1929), graduada na Alemanha e que veio para o Brasil em 1905 para trabalhar como assistente de zoologia no Museu Emílio Goeldi, em Belém do Pará. Publicou uma obra que inventariou 1.117 espécies de aves amazônicas e que foi referência para os estudiosos da ornitologia ao longo do século XX [14]. Naquela época, as mulheres, em sua maioria analfabetas, estavam longe dos bancos escolares e da carreira científica. Somente a partir de 1879 as mulheres puderam entrar nas instituições de ensino superior brasileiras, e só em 1887 foi expedido o primeiro diploma feminino de medicina, concedido à gaúcha Rita Lobato Velho Lopes (1867-1954). Eram poucas as mulheres aptas a serem aprovadas nos exames de ingresso.

A existência desses restritos espaços científicos foi abalada pela eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e provavelmente isso contribuiu para que em 1916 fosse fundada a Academia Brasileira de Ciência (ABC), que ao lado da Academia Nacional de Medicina, completava o quadro acanhado das ciências no país. A guerra tinha mostrado, na prática, a importância do poderio da ciência e da técnica nos campos de batalha e urgia que o Brasil, como um Estado soberano, também desenvolvesse o seu meio científico. Alguns cientistas, renomados mundialmente e preocupados com a luta pela paz, empreenderam uma campanha nos anos 1920 e, assim, Albert Einstein e Marie Curie vieram ao Brasil e desempenharam papel importante na difusão da ciência para a construção da paz [15].

Igualmente, os anos 1920 foram plenos de revoltas militares, greves operárias e de uma agitação científica e política que exaltavam os feitos da ciência e da tecnologia e que possibilitaram o desenvolvimento da pesquisa básica e a difusão da ciência no Brasil. No rastro dessa agitação foram criadas, em 1920, a Universidade do Brasil e, em 1934, a Universidade de São Paulo. As mulheres foram paulatinamente abrindo as portas das faculdades e, já nos anos 1920, graduaram-se as primeiras engenheiras nacionais. Na década seguinte, as faculdades de filosofia, ciências e letras nas universidades de São Paulo e do Brasil trouxeram muitas mulheres para seus cursos, o que ensejou a formação das primeiras cientistas nacionais [16].

Assim como a Primeira Guerra Mundial sacudiu o interesse nacional pela ciência, o final da Segunda Guerra Mundial teve também um papel fundamental para a formalização do sistema brasileiro de ciência e tecnologia. Em 8 de julho de 1948, cientistas reunidos em São Paulo fundaram uma sociedade civil similar a outras existentes nos países avançados, com a finalidade de formular ações e políticas públicas para o desenvolvimento científico nacional: a SBPC. Respondendo a tais demandas, em 1951 o Estado brasileiro criou o, então, Conselho Nacional de Pesquisas – que depois de 1974 passaria a ser o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do então Ministério da Educação e Cultura (MEC).

 

AS PIONEIRAS DA CIÊNCIA NO BRASIL: SUAS HISTÓRIAS

A participação feminina nas carreiras universitárias e científicas acentuou-se no país a partir dos anos 1970, depois que as mulheres venceram a luta para entrar no ensino superior. Cada porta do processo educacional nacional foi aberta por nossas trisavós depois de muita luta: da educação primária, secundária até os portões universitários. E o sucesso foi inegável, pois em 1991 assegurou-se definitivamente a vitória das mulheres na batalha educacional. Naquele ano, o censo demográfico mostrou que as mulheres brasileiras tinham mais anos de escolaridade que o sexo masculino. Todavia, a discriminação não foi vencida: persistiram desigualdades salariais e de acesso a carreiras profissionais e nas atividades científicas. E, na segunda década do século XXI, a ciência e a tecnologia ainda permanecem um reduto masculino, no mundo e no Brasil [8]. O reconhecimento dessas distorções foi a origem das tentativas de associadas da SBPC de provocação desse debate no seio da associação desde a década de 1970 [17].

O projeto do livro As pioneiras da ciência no Brasil foi fruto desse movimento. Na primeira década do século XXI, a direção da regional da SBPC do Rio de Janeiro era composta por diversas mulheres que abraçaram a ideia de realizar uma pesquisa para mostrar que as mulheres, silenciosamente, estavam nos bastidores do mundo científico nacional e que era necessário rasgar os panos desse anonimato. Participaram da iniciativa a então secretária-executiva da regional do Rio de Janeiro da SBPC, a cientista social Maria Lucia Maciel, uma pesquisadora simpática à luta feminista; a física Ligia Rodrigues e a economista Hildete Pereira de Melo, duas militantes feministas curtidas das lutas dos anos 1970 e 1980; além da matemática feminista Maria Eulália Vares.

Numa reunião da diretoria foram discutidas e aprovadas ações de gênero para a regional da SBPC do Rio de Janeiro, a saber: palestras sobre o tema no programa que a regional já realizava com sucesso, intitulado “Ciência às 6 ½”, e o projeto de um livro sobre as pioneiras da ciência brasileira. A ideia da publicação foi fruto da discussão preparatória para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2005 e da lacuna de nomes femininos na história da ciência nacional, pauta também cobrada por algumas estudantes e docentes no evento daquele ano. Havia como inspiração o livro comemorativo dos 50 anos da SBPC, publicado em 1998 e intitulado Cientistas do Brasil – depoimentos, no qual havia 59 depoimentos de cientistas brasileiros, dentre os quais apenas sete eram de mulheres. Ou seja, apenas 12% desse elenco estrelado de cientistas eram do sexo feminino: Johanna Dobereiner, Maria da Conceição Tavares, Nise da Silveira, Marta Vannucci, Carmen Portinho, Graziela Maciel Barros e Carolina Martuscelli Bori.

A incumbência de realizar a pesquisa coube a mim e à Lígia. A minha experiência na coordenação de uma pesquisa sobre a participação das mulheres no sistema brasileiro de ciência e tecnologia, realizada para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no início dos anos 2000, foi o pontapé para discutirmos os critérios de seleção das cientistas pioneiras em suas áreas científicas [18]. Tínhamos o desafio de resgatar do esquecimento figuras de mulheres que haviam efetivamente participado do processo de construção da ciência nacional e permaneciam ocultas na sua história. Como na diretoria da SBPC regional havia profissionais de diferentes áreas, começamos nossa pesquisa montando uma lista de pesquisadores que teriam de ser consultados para que fosse feita uma primeira seleção, por área científica, de mulheres que tinham se destacado ao longo daquelas décadas nas suas áreas de atuação, contribuindo dessa forma para o avanço da ciência e da tecnologia no Brasil.

Entrevistamos professores e pesquisadores renomados, como Herman Lent, Marcelo Damy de Souza Santos, Oscar Sala, José Leite Lopes, Maurício Peixoto, Amélia Império Hamburger, Ernesto Hamburger, além de pesquisadoras do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e de vários professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), USP e Universidade Federal Fluminense (UFF). Também consultamos o acervo da revista Ciência Hoje. Com essas entrevistas e leituras, montamos um painel das cientistas que eram lembradas pelos seus pares como figuras importantes em suas respectivas áreas de atuação. Não importava se tinham falecido, se retirado da vida acadêmica ou ainda permaneciam ativas, o que contava era o destaque no cenário científico nacional. Questões relevantes para compor esse painel referiam-se também à importância das publicações dessas cientistas, doutoramento ou não, e presença no cenário público brasileiro, através de entrevistas em jornais e revistas.

Encerrada a primeira etapa da pesquisa obteve-se o nome de 19 cientistas: Alice P. Canabrava e Eulália L. Lobo (historiadoras), Bertha Lutz (bióloga), Blanka Wladislaw (química), Carolina M. Bori (psicóloga), Elisa Frota-Pessoa, Neuza Amato e Sonja Ascher (físicas), Elza F. Gomide e Marília C. Peixoto (matemáticas), Graciela M. Barroso (botânica), Johanna Döbereiner (agrônoma), Maria Josephina M. Durocher (obstreta), Maria da Conceição Tavares (economista), Maria José von P. Deane (parasitologista), Marta Vanucci (bióloga), Nise da Silveira (médica psiquiátrica), Ruth S. Nussenzveig (bióloga) e Victória Rossetti (engenheira agrônoma).

Na época (segundo semestre de 2005), 12 já eram falecidas e sete estavam vivas. Foi possível entrevistar apenas duas dessas cientistas e, para a pesquisa sobre as demais, usamos as informações contidas em publicações e curriculum vitae, quando possível. As informações eram bastante heterogêneas e os verbetes resultantes espelham essas lacunas. Elas tiveram, em sua maioria, uma longa carreira científica [19], com exceção de apenas duas: Sonja Ascher (1923-1948) e Marília Chaves Peixoto (1921-1961), falecidas ainda jovens. A física Sonja Ascher foi a primeira mulher a obter título de doutorado em física, defendido em 1948, na Universidade de Cambridge (Inglaterra) com orientação do Prêmio Nobel de Física de 1933, Paul Dirac. A engenheira Marília Chaves Peixoto publicou trabalhos em funções convexas que tiveram enorme repercussão internacional e, em 1951, foi a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Ciências. A inclusão de Madame Durocher (1809-1893), uma mulher do século XIX, no rol das pioneiras da ciência no Brasil, se deu pelo reconhecimento do seu talento obstétrico. Ela foi membro titular da Academia Nacional de Medicina e, durante cinco décadas, a única mulher admitida como membro da instituição [20].

Parte das nossas preocupações foram direcionadas ao entendimento de como aquelas prestigiadas carreiras femininas haviam sido construídas por mulheres com diferentes situações pessoais e familiares (casadas, mães, solteiras). Das 19 cientistas elencadas, sete eram casadas com colegas cientistas, seis eram solteiras e seis casadas com homens de outras profissões. Portanto, 63% tinham constituído famílias e 32% tinham optado por não. Por quê? Como essas mulheres eram nascidas entre os 1910 e 1940, suas decisões eram provavelmente marcadas pelos ditames sociais daqueles tempos. Na entrevista com a matemática Elza Gomide [21], ela afirmou que teria sido muito difícil conciliar a carreira profissional com a familiar e optou pela dedicação integral ao ensino e à pesquisa [6]. Todavia, não foi possível fazer entrevistas com as mulheres cientistas casadas com colegas da mesma área, para conhecer como a conciliação foi feita (ou não) e quais tipos de atritos foram enfrentados por elas. Entre as cientistas com filhos, casadas com maridos de outras profissões, a física Neuza Amato afirmou que o apoio das empregadas domésticas foi importante para a conciliação da carreira e da maternidade. As origens familiares (imigrantes europeus) e o incentivo dos pais, muitos também cientistas, e de professores foi recorrente nas falas delas. Apenas Bertha Lutz e Maria da Conceição Tavares desenvolveram também intensas atividades políticas: ambas foram deputadas federais, Bertha dedicada à construção da cidadania feminina e Conceição da razão crítica na luta permanente pelo desenvolvimento, pela utopia de construir um país justo e inclusivo para brasileiros e brasileiras.

Em 2005, foi criado o Programa Mulher e Ciência, pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República, o CNPq, o então Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Ministério da Educação (MEC), com o objetivo de estimular a participação das mulheres no mundo científico e nas carreiras acadêmicas. Assim, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher de 2013, foram colocados no site do CNPq os verbetes do livro Pioneiras da ciência no Brasil (os verbetes foram atualizados, pois algumas das pioneiras haviam morrido desde a publicação [22]). Foi surpreendente a repercussão – o CNPq recebeu mais de 200 mensagens elogiando a iniciativa e sugerindo nomes de outras pioneiras da ciência de praticamente cada uma das unidades da federação brasileira.

No segundo semestre de 2014, o Museu Ciência e Vida, de Duque de Caxias (RJ), realizou uma exposição inspirada nos verbetes publicados no nosso livro, intitulada Mulheres Pioneiras nas Ciências no Brasil, com curadoria de Simone Pinto, sobre o significado da presença feminina na construção da ciência nacional. Houve um debate conosco e com outras acadêmicas fluminenses, sobre a presença das mulheres na universidade e na pesquisa científica, para estudantes do ensino médio do município. O projeto previa que a exposição municipal deveria, a partir de maio de 2015, tornar-se itinerante pelo estado do Rio de Janeiro.

 

CONCLUSÕES

A publicação do livro Pioneiras da ciência no Brasil pela SBPC, em 2006, na gestão de Ennio Candotti e de Maria Lucia Maciel na regional do Rio de Janeiro, foi provavelmente o primeiro resgate que a entidade fez contando a história das mulheres na construção da ciência no país. Hoje, são inúmeros os esforços das cientistas para rasgarem os panos e mostrarem o real valor das pesquisadoras brasileiras e estrangeiras, sejam elas físicas, matemáticas, químicas, engenheiras, biólogas e cientistas sociais. Temos, juntas, travado uma luta contra a sub-representação das mulheres no sistema científico e tecnológico e na denúncia do patriarcalismo, do racismo e do sexismo ainda subjacente na sociedade e no mundo científico.

Esse é um caminho ainda em construção, e esperamos que seja reforçado pelas novas gerações no momento que a SBPC completa 70 anos. As cientistas e estudantes se multiplicaram pelo Brasil nas duas últimas décadas e torcemos para que, a partir da inspiração na trajetória das mulheres pioneiras, sejam buscados novos nomes, brancos e negros, para que uma nova história seja recontada, com outras personagens da ciência nacional.

Essas brasileiras fizeram história na ciência

Apesar de todos os desafios e preconceitos, é cada vez mais marcante a importância da presença das mulheres na ciência. Elas venceram os mais variados obstáculos para deixarem sua marca e fazerem história, fazendo também a ciência avançar. Conheça algumas dessas brasileiras brilhantes que contribuíram para o desenvolvimento da ciência.

A história da educação feminina no Brasil é permeada pela exclusão. Assim como na maioria do mundo ocidental, por aqui elas ingressaram na escola tardiamente, tinham a formação voltada para os cuidados do lar e, apenas em 1879, o governo imperial brasileiro permitiu a entrada delas nas faculdades, mas somente com a aprovação do pai ou do marido.

No Brasil, as mulheres são a maioria da população há 27 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e, atualmente, representam 49% do total de bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Em um primeiro momento, esses dados parecem revelar uma igualdade na pesquisa nacional, mas um olhar um pouco mais atento revela que, na realidade, a ciência brasileira ainda é bem desigual.

Dados do CNPq revelam que 59% das bolsas de iniciação científica são de pesquisadoras, mas, nas de produtividade – que são as mais prestigiadas e com financiamento maior –, a parcela feminina cai para 35,5%. Dentro desse grupo existem ainda as bolsas 1A concedidas a pesquisadores sênior e apenas 24,6% delas são para cientistas do gênero feminino.

Mulheres cientistas brasileiras

Em 1954, o pesquisador russo Wladimir Besnard, a cientista Marta Vannucci e o reitor da USP Jose de Mello Moraes (Acervo Instituto Oceanográfico da USP)

As primeiras instituições de ciências exatas brasileiras surgiram durante o reinado de D. Pedro II, como a Escola Politécnica da Cidade do Rio de Janeiro, em 1874. Em 1845, havia sido criado o Imperial Observatório do Rio de Janeiro, atualmente Observatório Nacional e, em 1887, em Campinas, foi criado o Instituto Agronômico. Já na República, surgiram diversos outros órgãos focados em pesquisa, como a Escola Politécnica de São Paulo, em 1894, o Instituto Butantan, em 1899, e o Instituto Soroterápico Municipal de Manguinhos, criado em 1900 e transformado em Instituto Oswaldo Cruz em 1907.

Em sua maioria, os pesquisadores e professores dessas instituições eram homens estrangeiros ou brasileiros formados no exterior. A exceção era a presença da cientista Emilia Snethlage, graduada na Alemanha e que veio para o Brasil em 1905 trabalhar como assistente de Zoologia no Museu Emílio Goeldi, em Belém do Pará. Ela publicou uma obra que fazia inventário de mais de 1.100 espécies de aves amazônicas.

Ao longo da história, algumas brasileiras nascidas ou naturalizadas conseguiram superar as dificuldades de acesso à educação, abriram caminho para outras cientistas e hoje têm as histórias contadas como maneira de inspirar jovens apaixonadas pelas ciências em publicações como o livro Pioneiras da ciência no Brasil, lançado em 2018 em comemoração aos 70 anos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Uma delas é a bióloga paulista Bertha Lutz, cujas contribuições vão além da ciência. Nascida em 2 de agosto de 1894, foi uma das pioneiras pela luta do voto feminino no Brasil e atuou intensamente na pesquisa zoológica voltada para espécies anfíbias brasileiras. Também nas Ciências Biológicas, destaca-se o pioneirismo de Marta Vannucci, primeira mulher a se tornar membro titular da Academia Brasileira de Ciências, em 1955. Nascida em 1921, em Florença, na Itália, dedicou a vida a pesquisar os ecossistemas dos mangues e se tornou uma das maiores especialistas do mundo no assunto, além de ter sido uma das principais responsáveis pela criação do Instituto Oceanográfico da USP.


Graziela Maciel Barroso 

Naturalista e botânica brasileira, foi aprovada em segundo lugar no concurso de naturalista do Jardim Botânico do Rio de Janeiro mesmo sem curso superior. Ingressou no curso de biologia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) aos 47 anos e defendeu seu doutorado aos 60. Tornou-se a maior taxonomista de plantas no Brasil, tendo mais de 25 espécies batizadas em seu nome e sendo a única brasileira a receber a medalha internacional Millenium Botany Award.

Natural de Corumbá, Mato Grosso do Sul, Graziela Maciel Barroso tem o título de “primeira dama da botânica do país”. Trabalhou no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ingressou na faculdade aos 49 anos para cursar Biologia na Universidade do Estado do Guanabara, atual Uerj, e foi professora de diversas universidades. Tornou-se a maior catalogadora de plantas do Brasil e mais de 25 espécies vegetais identificadas nos últimos anos foram batizadas em homenagem a ela, que faleceu em 2003, um mês antes da data que seria empossada na Academia Brasileira de Ciências.

 

Engenharia e ciências exatas –

Enedina Alves Marques 

A engenheira Enedina Alves (Acervo Gazeta do Povo, domínio público)

Instituições de fomento científico continuaram a ser criadas no Brasil e, em 1916, foi fundada a Academia Brasileira de Ciências. Em 1920, foi aberta a Universidade do Brasil e, em 1934, a Universidade de São Paulo. Já nos anos 1920 graduaram-se as primeiras engenheiras brasileiras, como Edwiges Maria Becker Hom’meil, Anita Dubugras, Iracema da Nóbrega Dias e Maria Esther Corrêa Ramalho. A primeira engenheira negra do Brasil, Enedina Alves, formou-se na Universidade Federal do Paraná apenas em 1945.

Primeira engenheira negra do Brasil, formou-se em engenharia civil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1945. Foi professora, trabalhou como chefe em obras públicas e no desenvolvimento do Plano Hidrelétrico do Paraná.

Nascida na Checoslováquia em 1924 e naturalizada brasileira em 1956, Johanna Döbereiner foi uma engenheira agrônoma que revolucionou a agricultura. Demonstrou que, na sojicultura no Brasil, era possível utilizar certos tipos de bactérias que fixam o nitrogênio, dispensando o adubo mineral que é caro e nocivo ao meio ambiente. Durante os anos 1990, Johanna era a mulher brasileira mais citada pela comunidade científica e, em 1997, foi indicada ao Nobel de Química.

Dados do CNPq de 2017 revelam uma discrepância maior entre o número de pesquisadores por gênero nas ciências exatas. Enquanto nas áreas de Saúde, Linguística, Letras e Artes e Biológicas existem mais mulheres cientistas do que homens, nas Ciências Exatas e da Terra elas são apenas 34% e em Engenharia e Computação, 36% do total.

Algumas cientistas abriram os caminhos para outras no estudo das chamadas “ciências duras”, como a francesa Yolande Anna Esther Monteux, que chegou ao Brasil em 1913, com 3 anos de idade e, em 1937, foi a primeira mulher a se graduar em Física no país na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.

Sonja Ashauer

Primeira mulher brasileira a concluir o doutorado em física pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Pesquisou vários problemas relacionados à mecânica quântica.

Já a paulista Sonja Ashauer foi a primeira brasileira a concluir o doutorado em Física, em 1948, na Universidade de Cambridge.

A polonesa Blanka Wladislaw, nascida 1917, chegou ao Brasil aos 14 anos e é lembrada pelo pioneirismo nos estudos e no ensino da Química. Na década de 1950, após estudar no Imperial College of Science and Technology da Universidade de Londres, iniciou no Brasil uma nova linha de pesquisa no campo de Eletroquímica Orgânica. Foi, também, responsável pelo ensino e pesquisa de Química Orgânica no Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP até a formação do Instituto de Química da USP, em 1970.

Elza Furtado Gomide 

Primeira doutora em matemática pela Universidade de São Paulo (USP). Foi eleita chefe do Departamento de Matemática da USP em 1968 e tornou-se militante pelas questões ligadas ao ensino.

Matemática, a paulista Elza Furtado Gomide foi a primeira mulher a se doutorar em Matemática em uma instituição nacional. Ela se formou em Física em 1944, na USP, mas na metade do curso, percebeu que se interessava muito mais por Matemática. Defendeu a tese de doutorado em 1952 também na USP e, em 1968, passou a chefiar o Departamento de Matemática da universidade.

Avanços na medicina

A médica paraense Maria José von Paumgartten Deane (Acervo Agência Fiocruz)

Na saúde, algumas cientistas realizaram descobertas relevantes que mudaram tratamentos e revolucionaram a medicina brasileira. A parasitologista e protozoologista Maria José von Paumgartten Deane, nascida em 1916, no Pará, e graduada pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará em 1937, se dedicou às pesquisas de campo e laboratório fundamentais no combate a males como malária, leishmaniose visceral, verminose e leptospirose.


Maria José Deane  é uma Médica parasitóloga, formou-se na Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará, em 1937, e viajou o Brasil estudando doenças causadas por parasitas. Foi chefe do departamento de protozoologia da Fiocruz e na década de 1980 e, mais tarde, vice-diretora da instituição. Suas pesquisas contribuíram para a erradicação de epidemias causadas por parasita.

Em 1980, foi chefe do departamento de Protozoologia do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e, em 1986, foi nomeada vice-diretora do instituto.

Criada em São Paulo, a austríaca Ruth Sonntag Nussenzweig se formou em Medicina na USP em 1953. Desenvolveu um método capaz de identificar a presença do parasita da Doença de Chagas e, em 1967, imunizou roedores contra a malária, abrindo portas para o desenvolvimento de uma vacina contra a doença. Em 2013, foi a primeira pesquisadora brasileira a ser eleita para a Academia de Ciências dos Estados Unidos e a primeira a chefiar a divisão de Parasitologia da Universidade de Nova York, onde fixou residência após 1964.

Formada pela Universidade Federal de Goiás, a médica epidemiologista Celina Turchi Martelli é responsável por comprovar cientificamente a associação entre o zika vírus e casos de microcefalia em maternidades do Recife em 2015. Ela foi eleita como um dos dez nomes de maior destaque da ciência em 2016 pela revista Nature e, no ano seguinte, passou a integrar a Academia Brasileira de Ciências. A médica Adriana Melo, graduada pela Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, também apresentou provas da relação entre o vírus zika e a microcefalia. Ela é presidente do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto, que desenvolve estudos na área de saúde do feto e da criança e pesquisas sobre as consequências de longo prazo em bebês com microcefalia e síndrome congênita da Zika.

Cientistas negras brasileiras

Lelia Gonzalez 

Pioneira nas ciências sociais no que se refere aos estudos sobre cultura negra no país. Doutora em antropologia, co-fundou o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro. Seu pensamento atravessa filosofia, candomblé e psicanálise, propondo uma visão afro-latino-americana do feminismo.

A filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez é lembrada pelos estudos da história e da cultura negra no Brasil. Nascida em 1935, em Belo Horizonte, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro onde graduou-se em História e Geografia, em 1960, e dois anos depois, tornou-se bacharel em Filosofia pela Universidade Estadual da Guanabara, atual Uerj. Lélia publicou livros e artigos, iniciou o primeiro curso de Cultura Negra na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), participou da fundação do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros, no Rio de Janeiro e dirigiu o departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio.

A filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez, em 1979 (Acervo Lélia Gonzalez)

Embora a população brasileira seja formada por 55.8% de pessoas negras, de acordo com dados do IBGE divulgados em 2018, informações do CNPq revelam que mais de 60% dos pesquisadores são brancos e brancas. Em 2015, o órgão registrava 18.865 mulheres brancas bolsistas e 6.695 negras.

A Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) – ABPN, fundada em 2000, trabalha na defesa da pesquisa acadêmico-científica realizada prioritariamente por cientistas negros e negras, entre elas a doutora e mestra em Ciências e Licenciada em Química pela UFRJ Anna Maria Canavarro Benite. Professora da Universidade Federal de Goiás, ela coordena o Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão (LPEQI), onde instituiu, em 2009, o Coletivo CIATA- Grupo de Estudos sobre a Descolonização do Currículo de Ciências.

A atual presidente da ABPN, Nicea Quintino Amauro, é doutora, mestra e bacharel em Química pela USP e professora da Universidade Federal de Uberlândia. Lá, é orientadora no Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PPGECM) e no Programa de Pós-graduação em Química da Universidade Federal de Uberlândia (PPQUI).

Katemari Diogo Rosa

Professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutora em Science Education pela Universidade de Columbia (EUA), suas pesquisas envolvem ensino de física e debates sobre gênero, sexualidade, raça e status socioeconômico no ensino das ciências. Integrante da Sociedade Brasileira de Física (SBF), também faz parte da National Organization of Gay and Lesbian Scientists and Technical Professionals e da Associação Brasileira de Pesquisadoras/es Negras/os (ABPN).

A gaúcha Katemari Rosa é graduada em Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestra em Ensino, Filosofia e História das Ciências pela Universidade Federal da Bahia, e mestra e doutora em Science Education pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Ela é integrante da Sociedade Brasileira de Física, atuando como membro do Grupo de Trabalho de Minorias na Física e representante da região Nordeste na Comissão de Ensino de Física.

Conheça mais mulheres cientistas brasileiras no portal Pioneiras da Ciência do CNPq e no vídeo abaixo:

Débora Diniz

Antropóloga, documentarista, especialista em bioética e professora licenciada da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), Fundou o Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis), que atua principalmente com os direitos reprodutivos das mulheres.

Débora Menezes

Professora titular do Departamento de Física da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), tornou-se a primeira mulher eleita presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF). Suas pesquisas envolvem a área de física de hádrons, interface entre a física nuclear de baixas energias e a física de partículas elementares.

Amélia Império Hamburger — Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São PauloAmélia Império Hamburger  foi uma física, professora, pesquisadora e divulgadora científica brasileira. Com trabalhos em diversas áreas da física, realizou incursões pela epistemologia e história das ciências, motivada por interesses no ensino de física e na preservação da memória da ciência no Brasil. Ela foi uma das pioneiras da ciência no Brasil.

Graduada em física em 1954 pela então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, concluiu em 1960 o mestrado na Universidade de Pittsburgh, com a dissertação An analysis of (d,t) pick-up reactions. Durante o mestrado publicou, em coautoria com W. E. Moore e J. N. McGruer, artigo científico no primeiro número de Physical Review Letters, de 1958. Seu pós-doutorado foi realizado na Universidade Carnegie Mellon e concluído em 1967.

Foi professora no Instituto de Física da Universidade de São Paulo por mais de quarenta anos e a responsável pela organização de seus arquivos históricos. Além disso, participou da criação da Sociedade Brasileira de Física, tendo redigido os estatutos desta entidade e participado como membra de sua diretoria e conselho em diversas ocasiões.

Elisa Frota Pessoa 

Uma das primeiras mulheres a se formar em física no Brasil, destacando-se nos estudos sobre radioatividade. Uma das pioneiras na ciência no país, fundou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, onde coordenou o Laboratório de Emulsões Nucleares.

Jaqueline Goes

Doutora em patologia humana e experimental pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), a cientista e sua equipe identificaram os primeiros genomas do novo coronavírus apenas 48 horas depois da confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil. Desenvolve pesquisas na área de arboviroses emergentes em nível de pós-doutorado no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo da Universidade de São Paulo (IMT/USP).

A geneticista Chana Malogolowkin-Cohen (1924-2022) nasceu em 13 de setembro.

Foi a primeira mulher a se doutorar em História Natural no Brasil, fundadora da Sociedade Brasileira de Genética em 1955 e a primeira mulher brasileira a publicar na revista Science.

Ela foi pioneira em genética de moscas-das-frutas no Brasil: Drosophilas são usadas como animais de laboratório em pesquisas genéticas.

Sua pesquisa ajudou a avançar na infecção dos mosquitos Aedes aegypti com uma bactéria que os impede de transmitir os vírus da dengue , zika , chikungunya e febre amarela .

Contribuições na Medicina e na Saúde

Na área da saúde, mulheres cientistas realizaram descobertas fundamentais que transformaram tratamentos médicos e práticas de saúde no Brasil. Nise da Silveira, médica psiquiatra, introduziu abordagens inovadoras no tratamento de pacientes psiquiátricos, promovendo a terapia ocupacional e a expressão artística como parte integrante do tratamento.

Uma psiquiatra rebelde

Nise da Silveira nasceu em 1905 em Maceió, Estado de Alagoas. Formada pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1926, dedicou-se à psiquiatria sem nunca aceitar as formas agressivas de tratamento da época, tais como a internação, os eletrochoques, a insulinoterapia e a lobotomia.

Faculdade de Medicina da Bahia, 1921-1926 – Única mulher numa turma de 158 alunos

“Aquilo que se impõe à psiquiatria é uma verdadeira mutação, tendo por princípio a abolição total dos métodos agressivos, do regime carcerário, e a mudança de atitude face ao indivíduo, que deixará de ser o paciente para adquirir a condição de pessoa, com direito a ser respeitada.” Nise da Silveira

Nise da Silveira é presa como comunista e afastada do Serviço Público de 1936 a 1944. Anistiada, funda em 1946 a Seção de Terapêutica Ocupacional no antigo Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, que hoje leva seu nome. Em 1952, cria o Museu de Imagens do Inconsciente, um Centro de Estudo e de Pesquisa que reúne obras produzidas nos ateliês de atividades expressivas. Também é responsável pela formação do Grupo de Estudos C.G. Jung, em abril de 1955, e no ano seguinte, juntamente com um grupo de pessoas animadas pelas mesmas idéias, dá vida a mais um projeto: a criação da Casa das Palmeiras, uma clínica destinada ao tratamento de egressos de instituições psiquiátricas, onde atividades expressivas são realizadas livremente, em regime de externato.

Foi também pioneira no Brasil na pesquisa das relações afetivas entre pacientes e animais, aos quais chamava de co-terapeutas.

Como reconhecimento à importância de sua obra, Dra. Nise recebeu condecorações, títulos e prêmios em diferentes áreas do conhecimento: saúde, educação, arte e literatura. Seu trabalho e seus princípios inspiraram a criação de Museus, Centros Culturais e instituições terapêuticas no Brasil e no exterior. Por meio de seu trabalho introduziu a psicologia junguiana no Brasil. Faleceu em 30 de outubro de 1999.

Márcia Barbosa

Diretora da Academia Brasileira de Ciências (ABC), integrante da Academia Mundial de Ciências, professora e pesquisadora do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em estudos relacionados à água, em 2020, foi eleita pela Forbes uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil.

Mayana Zatz

Referência na área da pesquisa em genética humana, reconhecida mundialmente. Em 1981, fundou a Associação Brasileira de Distrofia Muscular.

 


Nadia Ayad

Formada em engenharia de materiais pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), doutoranda em bioengenharia pela Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos e líder da Fundação Estudar. Recebeu o prêmio internacional Global Graphene Challenge Competition por criar um mecanismo sustentável que torna a água potável usando a dessalinização a partir do grafeno.

Natália Pasternak

Diretora do Instituto Questão de Ciência, teve papel fundamental na divulgação da ciência durante a pandemia. Em 2020, organizou o primeiro curso de especialização em comunicação pública da ciência na cidade de São Paulo e recebeu o prêmio Navalha de Ockham da publicação britânica “The Skeptic Reason with Compassion” pelos esforços no combate à desinformação durante a crise sanitária.

Simone Maia Evaristo

Bióloga formada pela Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, e especializada em Citologia Clínica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É presidente da Associação Nacional de Citotecnologia (Anacito) e supervisora na área de ensino técnico do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Sonia Guimarães

Primeira mulher negra doutora em física e também primeira mulher negra a lecionar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). É ativista na luta contra o racismo e a discriminação de gênero.

Thelma Krug

Matemática, professora e pesquisadora com atuação na área de mudanças climáticas. Pesquisadora aposentada do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e vice-presidente do sigla em inglês para o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organização da ONU Graduou-se e fez mestrado na Roosevelt University, nos Estados Unidos, concluindo o doutorado em estatística espacial pela Universidade de Sheffield, na Inglaterra.

Luiza Bairros (1953-2016) – Mestre em ciências sociais, foi ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil entre 2011 e 2014. Pesquisadora sobre racismo, sexismo e o negro no mercado de trabalho, em 2016 (ano de sua morte), foi homenageada pelo Coletivo Luiza Bairros, em Salvador, focado na construção de uma permanente política de ações afirmativas na UFBA.

Viviane dos Santos

Desenvolveu um produto catalisador que reduz emissão de gases poluentes, recebendo premiação máxima em 2010 em uma conferência na Finlândia, onde concorreu com 800 pesquisadores. Estudou bioquímica e engenharia química na Delft University of Technology.

Maria Beatriz Nascimento

Maria Beatriz do Nascimento (1942-1995) – Historiadora e ativista dos direitos humanos, considerada uma das grandes pesquisadoras dos estudos étnicos sobre o negro no país. Sua obra mais conhecida é o documentário Ori, de 1989, além da contribuição para as ciências sociais com artigos sobre conceito de quilombo, racismo e sexismo.

Considerada uma das grandes pesquisadoras dos estudos étnicos sobre o negro no país. Historiadora e ativista dos direitos humanos, Sua obra mais conhecida é o documentário Ori, de 1989.

Neusa Amato, foi uma física brasileira, uma das pioneiras no estudo de física de partículas no Brasil.

Quem foi a física pioneira Neusa Amato?Filha de Salim Margem e Sumaia Faquer, ambos de origem libanesa, Neusa nasceu em Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro, em 1926, mas mudou-se para a capital com um mês de vida.

Estudou na atual Escola Municipal Rivadávia Corrêa. Em casa, Neusa não tinha incentivo para os estudos. Seus pais acreditavam que mulher tinha que se preocupar em casar. Contrariando seus pais, prestes a terminar os estudos secundários, começou a trabalhar. Um de seus professores de física no colégio, Plínio Sussekind Rocha, ao saber que a aplicada aluna largaria os estudos para ter que trabalhar, a convenceu a prestar o vestibular para a Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), da Universidade do Brasil, hoje a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Plínio deu aulas de graça durante as férias para auxiliar seus alunos interessados no curso.

Neusa foi aprovada e obteve o bacharelado em 1945, licenciando-se em 1946. Começou a dar aulas de física no Colégio Assunção e no Colégio de Aplicação da Universidade do Brasil. Entretanto, seu desejo era partir para a pesquisa, tendo se destacado ainda na graduação. Então, César Lattes a convidou para trabalhar no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, criado em 1949, com a participação de Lattes e os grandes pioneiros da física no Brasil, como José Leite Lopes e Jayme Tiomno.

Como era pesquisadora voluntária, continuou lecionando em escolas até 1951, quando foi contratada pelo CBPF em tempo integral. Um ano antes, publicou junto de Elisa Frota Pessoa, o primeiro artigo do CBPF, “Sobre a desintegração do méson pesado positivo”, nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, que publicava resultados que apoiavam, experimentalmente, a teoria “V-A” das interações fracas.

Em 1967 foi iniciada colaboração Brasil-Japão, iniciativa de César Lattes e Hideki Yukawa para estudar as interações produzidas pelos raios cósmicos usando emulsões nucleares expostas no Monte Chaclataya, na Bolívia . Neusa dedicou-se a estudar os rios cósmicos de altas energias durante toda sua carreira no CBPF, de 1950 a 1996. Foi a responsável pelo Laboratório de Emulsões Nucleares do CBPF e pela colaboração Brasil-Japão, no Rio de Janeiro durante várias décadas.

Sonia Machado de Campos Dietrich foi uma bioquímica brasileira. Sonia foi pioneira no desenvolvimento da fisiologia e bioquímica de plantas.

Comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro da Academia Brasileira de Ciências, era professora titular do Instituto de Botânica.

Nascida em São Paulo, em 1935, Sônia ingressou no curso de História Natural, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, formando-se em 1957. Em 1959 ingressou no Instituto de Botânica da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo. Em 1960, trabalhou no grupo do bioquímico argentino Luis Federico Leloir, famoso por ganhar o Prêmio Nobel de 1970 pela descoberta do mecanismo principal da síntese de carboidratos em seres vivos.

De 1964 a 1966, Sonia trabalhou na Universidade do Wisconsin-Madison, fazendo seu doutorado em bioquímica de alcaloides, na Universidade de Saskatchewan, no Canadá, de 1967 a 1969.

Realizou estudos pioneiros na busca de polissacarídeos (especialmente os polissacarídeos de parede celular e os frutanos) de plantas nativas brasileiras. As descobertas de tais pesquisas possibilitam hoje o desenvolvimento de aplicações de polissacarídeos de plantas brasileiras em biotecnologia. Estabeleceu os princípios dos modelos biológicos de espécies nativas para os estudos fisiológicos e bioquímicos para melhor compreender os mecanismos de estabelecimentos de espécies vegetais à Mata Atlântica e ao Cerrado. Estes estudos reforçaram os esforços para a conservação da biodiversidade brasileira ao se compreender seu funcionamento.

Sonia também pesquisou os mecanismos de resposta de defesa de plantas, que são essenciais para a agricultura. De 1959 a 1992, sua aposentadoria, foi biologista e pesquisadora científica do Instituto de Botânica da Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente de São Paulo. Foi pesquisadora visitante do mesmo instituto até sua morte, em 2012. Orientou 27 teses e dissertações ao longo de 37 anos de carreira, publicando 102 trabalhos científicos em periódicos e anais do mundo todo.

Foi a primeira coordenadora do pioneiro curso de Pós-Graduação em Biodiversidade. Membro ativo da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, do Conselho Deliberativo do CNPq e da Academia Brasileira de Ciências. Era conhecida como “Dama de Ferro”, devido a seu senso crítico e luta pela estabilidade do financiamentos à pesquisa no país, além da consolidação da carreira de pesquisador e da regulamentação da carreira de biólogo.

Fundadora da Rede Latinoamericana de Botânica (RLB) e membro da Rede Latinoamericana de Biologia, (RELAB), Vice-presidente do Conselho Federal de Biologia e editora-chefe da Revista Brasileira de Botânica que se se tornou a Brazilian Journal of Botany (Springer), oficialmente registrado um dia antes de sua morte.

Mayana Zatz – Nascida em Israel, com nacionalidade brasileira,

Mayana_Zatz

Mayana é referência na área da pesquisa em genética humana, reconhecida mundialmente. Em 1981, fundou a Associação Brasileira de Distrofia Muscular. Entre seus prêmios, estão a grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2000, e o prêmio latino-americano L’Oréal-UNESCO para mulheres em ciência, no ano seguinte.

Anita Canavarro

É professora de química na Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Ciências pela Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ). Fundou, em 2009, o grupo de Estudos sobre a Descolonização do Currículo de Ciências (CIATA) do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (CIATA-LPEQI/UFG) com a proposta de “ descolonizar” o estudo de ciências.

Além disso é presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), que busca promover a superação do racismo por meio da educação, defendendo e zelando pela manutenção de pesquisas com financiamento público.

Vivian Miranda

Única brasileira a trabalhar em um projeto da Nasa para desenvolver um satélite avaliado em US$ 3,5 bilhões (R$ 16,74 bilhões). Graduada em física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é a primeira transexual a cursar pós-doutorado em astrofísica na Universidade do Arizona (EUA), onde também é pesquisadora.

Fontes:
Portal IBGE;
Portal CNPq;
Portal Capes;
Portal Ciência Hoje;
Portal Mulheres e Meninas na Ciência – FioCruz;
Calendário Cientistas Negras – Fiocruz;
Associação Brasileira de Pesquisadores(as) Negros(as) – ABPN;
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC);
Academia Brasileira de Ciências;
Sociedade Brasileira de Física;
Pioneiras da ciência no Brasil, Hildete Pereira de Melo e Lígia Maria Rodrigues – SBPC;
Mulheres e ciência: uma história necessária, Hildete Pereira de Melo e Lígia Maria Rodrigues – SBPC;
Pioneiras da ciência no Brasil: uma história contada doze anos depois, Hildete Pereira de Melo e Lígia Maria Rodrigues – SBPC;
Mulher na ciência: ciência também é coisa de mulher, Mariane Rodrigues Cortes – UFF;
Mulheres na ciência: por que ainda somos tão poucas?, Vanderlan da Silva Bolzani – Unesp.

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