Porque muitas mulheres se sentem insatisfeitas nos seus relacionamentos? (Parte 1)
Muitas vezes as mulheres reclamam que os homens não são companheiros, não assumem os relacionamentos, não são carinhosos, fiéis, não as ouvem, não as entendem, só pensam em sexo, não as valorizam, não tem sensibilidade e diversas outras reclamações.
Na verdade o que essas mulheres procuram nos homens são características femininas. Carinho, atenção, cuidado, desejo de se relacionar, valorização do relacionamento, entendimento e interesse pela psicologia humana, receptividade , se entregar para o amor, além do sexo e sensibilidade são características femininas latentes no ser humano e possivelmente conscientemente presentes tanto na mulher como no homem. Porém, a mulher, como representante da feminilidade humana, tem mais condições de expressar essas características e através da relação com a mulher, o homem pode conscientizar essas virtudes antes latentes, mas inconscientes na sua psique. Quando um homem não quer ou não consegue expressar estas características é porque, em seus relacionamentos com as mulheres, não experimentou de fato ou de forma harmoniosa a feminilidade. Da mesma forma quando uma mulher espera do homem comportamentos e virtudes femininas é porque ela mesma também não consegue manifestar a sua essência feminina, neste caso, porque isso foi reprimido ou desvirtuado no seu desenvolvimento. Isso pode parecer estranho, mas é a realidade não só de muitas mulheres ou homens, mas de toda uma sociedade que, mais do que reprimiu as mulheres, denegriu, desvalorizou e distorceu a feminilidade. Uma sociedade de homens e mulheres. Muitas mulheres que mesmo tendo se livrado da repressão e conquistado seus direitos como humana, cidadã, eleitora, como profissional etc, não assumiram e não libertaram o feminino cativo, muito pelo contrário, conquistaram altos cargos políticos, empresariais, assim como poder, dinheiro, prazer sexual, através de comportamentos, atitudes e idéias extremamente masculinas, em detrimento dos valores femininos, promovendo uma imagem e criando modelos que são aceitos e seguidos por toda a sociedade, aprisionando ainda mais a essência feminina. Pois, quem está no poder; os meios de comunicação comungados com as diversas mais poderosas industrias, organizações políticas e religiosas, através de suas lideranças, são, os que definem e propagam o que deve ser entendido como certo ou errado, como bom ou ruim e, neste caso, as mulheres que estão nestas lideranças, ou seja, as detentoras do poder, são também grandes responsáveis pela forma de interpretar e experimentar o que se chama de feminino neste mundo.
Um grande numero de pessoas, ‘incluindo as mulheres’, não possuem educação suficiente ou educação humana verdadeira, que lhes despertam e fortaleçam a consciência para refletir sobre essas influências, acabando por aceitar e praticar essas idéias, sem nenhum questionamento. Antes, se podia dizer que as mulheres não tinham nenhuma oportunidade de mudar esta situação, mas e agora? Em muitos lugares do mundo, isso é realmente uma verdade, mas em muitos outros, a mulher detém também o poder, tem a possibilidade de mudar a cultura do mundo, e simplesmente compactua e dissemina a mesma cultura patriarcal que a reprimiu durante milênios.
Em relação, então, a questão da verdadeira feminilidade no nosso mundo, ainda nem estamos engatinhando. É claro que houve um avanço imenso em relação a liberdade de expressão e vida da mulher como ser humano, mas o que questionamos aqui é a repressão do feminino na mulher, no homem, em toda a sociedade.
Há mulheres que conseguem sim experimentar o verdadeiro feminino e outras além disso também o disseminam. Mas infelizmente são poucas.
A grande maioria aceitam e se comportam de forma masculina, sem mesmo ter consciência disso. Não há problema em também expressar o masculino, o problema é não haver equilíbrio entre o feminino e o masculino. O problema é que se não houver o feminino, o masculino também é comprometido. Pois a harmonia, o equilíbrio da psique e de toda a vida está também na harmonia do masculino e do feminino. Se não for integrado ao feminino, o masculino mostrará muito sua face negativa. O Masculino é pensamento, pesquisa, análise, racionalidade , cientificismo, lógica, iniciativa, disciplina, o foco, força e coragem física, diversidade, desenvolvimento, sistematização, a conquista da materialidade ou ‘externalidade’, a vontade, consciência, persistência, mas que pode levar a competição, rivalidade, resistência, dominação, violência, fanatismo, divisão e devastação caso se rejeite o Feminino. Já o Feminino é a intuição, a sensibilidade, criatividade, receptividade, paciência, comprometimento e engajamento, generosidade, dedicação, cuidado, ética, poder, força psíquica, cura, arte, comunicação, a abertura para a interioridade, para a relação e o amor. E também, caso rejeite o masculino, poderá se tornar apego, a possessividade, o ciúmes, manipulação psíquica, ardilosidade, medo, preguiça, submissão, inconsciência etc. Não há como haver harmonia, paz e plenitude sem o equilíbrio destas polaridades.
Assim, se as mulheres desejam que os homens sejam mais receptivos, sensíveis, compromissados e envolvidos no relacionamento, ou seja que saibam amar, precisam elas, antes, expressarem sua própria essência, a verdadeira feminilidade para serem o exemplo para seus filhos, irmãos, amigos, funcionários, chefes, pais, para toda uma sociedade, mudando toda a cultura desta civilização que necessita ser realmente mais civilizada, em harmonia com também com a Natureza e Cósmos. A natureza em sua grandeza visível e também invisível é projeção, assim como nossos relacionamentos do que está no interior de nós. Se a natureza está devastada, se há desequilíbrio, se os corpos estão padecendo com diversas doenças, se há violência, irresponsabilidade e incoerência entre o alto desenvolvimento científico e tecnológico e a fraqueza psíquica no mundo é porque dentro de cada um de nós existe isso em gamas diferentes e ocultos pela nossa falta vontade e sabedoria em acordarmos e nos responsabilizarmos pela nossa própria vida e experiência. A dificuldade de relacionamento com o outro é apenas uma projeção da dificuldade de relacionamento conosco mesmo, com nossas verdadeiras necessidades, propósitos e responsabilidades. A dificuldade de relacionamento entre o homem e a mulher, é a projeção do desequilíbrio entre a feminilidade e masculinidade em todos as expressões de vida humana deste globo.
Porque sentiríamos falta de algo que já temos? Só sentimos falta, só esperamos, só desejamos algo que não temos. Se as mulheres expressassem realmente a sua essência feminina, ela não só esperaria dos seus homens isso, como ela atrairia homens com mais harmonia na sua psique, ou seja que fossem receptivos a experiência real com o feminino, com a mulher e com sua própria essência masculina.
Expressar o feminino, é manifestar o amor. Lembrando que o amor verdadeiro e a confraternidade como somatória de todas as características femininas integradas e conscientizadas e não é o apego, a possessividade, o ciúme, como na maioria das vezes confundimos.
O amor que gera a alma, também precisa da alma. A insatisfação nasce da falta de amor. A alma se orienta para a uniformidade, a unidade e totalidade e o ego para a diversidade e a dimensionalidade. Essa unidade com a natureza, com o cósmos que gera o êxtase que provoca a transformação. Mas a unilateralidade que provilegia somente um lado também não alcança o todo.
(continua na Parte II, onde refletiremos mais especificamente sobre a relação homem e mulher)