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Charlotte Joko Beck

Charlotte Joko Beck (27 de março, 1917 — 15 de junho, 2011)

Foi uma mestre Zen dos Estados Unidos e autora dos livros Everyday Zen: Love and Work (Zen diário: Amor e Trabalho) e Nothing Special: Living Zen (Nada em especial: Vivendo Zen). Nascida na Nova Jérsey em 1917, ela estudou música no Oberlin Conservatory of Music e trabalhou por algum tempo como pianista e professora de piano. Ela casou-se e teve quatro filhos, então separou-se e trabalhou como professora, secretária e assistente num departamento de universidade. Ela começou a praticar já com 40 anos com Hakuyu Taizan Maezumi em Los Angeles, e posteriormente com Yasutani Roshi e Soen Roshi. Por vários anos ela viajou de San Diego ao Centro Zen de Los Angeles. Tendo recebido a transmissão do Dharma de Taizan Maezumi Roshi, ela fundou a Escola Zen da Mente Comum (Ordinary Mind Zen School) e iniciou o Centro Zen de San Diego em 1983, servindo como sua principal mestra até julho de 2006. Viveu em Prescott, Arizona.

 

Beck faleceu a 15 de junho, 2011.[1][2]

 

Referências1

Charlotte Joko Beck, professora de Zen, é responsável pelo Centro Zen de San Diego (“San Diego Zen Center”). Na decada de 60 treinou com os Roshis Hakuun Yasutani e Soen Nakagawa. Em 1983 transformou-se na terceira Herdeira do Dharma de Roshi Hakuyu Maezumi do Centro Zen de Los Angeles (“Zen Center of Los Angeles“). Atualmente ensina em San Diego, EUA.

Charlotte Joko Beck transmitiu o Dharma para os seguintes discípulos: Larry Christensen; Anna Christenson; Elizabeth Hamilton; Barry MagidElihu Genmyo Smith e Diane Eshin Rizzetto .

É autora de dois livros:
Everyday Zen: Love and Work (Sempre Zen: Como Introduzir a Prática do Zen em Seu Dia a Dia), 1989.
Nothing Special: Living Zen (Nada Especial: Vivendo Zen),1994.

Um capítulo que discute seu trabalho pode ser encontrado no livro de L. Friedman, “Meetings with Remarkable Women: Buddhist Teachers in America”(Reuniões com mulheres notáveis: Professores budistas na América), 1987. Boston & Londres: Shambhala.

Charlotte Joko Beck e seus Sucessores do Dharma iniciaram em 1995 a Escola Zen da Mente Comum (“Ordinary Mind Zen School”).

Por Steve Smith2

Joko Beck é uma americana zen, original. Nascida em Nova Jersey, educada em escolas públicas e no Conservatório de Música Oberlin, Joko (então Charlotte) casou-se e começou a criar sua família. Quando o casamento se desfez, ela sustentou a si e aos quatro filhos como professora, secretária e, depois, assistente administrativa de um grande departamento de uma universidade. Não antes dos quarenta e poucos anos foi que Joko iniciou sua prática zen com Roshi Maezumi (então Sensei ), de Los Angeles e, mais tarde, com Roshi Yasutani e Roshi Esoen. Durante anos, ia com regularidade de San Diego até o Zen Center de Los Angeles (ZCLA). Sua aptidão natural e diligência persistente permitiram-lhe progredir com rapidez; conforme os demais alunos constatavam sua maturidade, sua clareza e sua compaixão, ela começou a se sentir cada vez mais atraída a ensinar outras pessoas. Joko terminou sendo indicada como a terceira Dharma Herdeira de Roshi Maezumi, e, em 1983, mudou-se para o Zen Center de San Diego, onde mora e leciona nos dias de hoje.

Como uma mulher americana, cuja vida estava bastante consolidada antes de começar a praticar, Joko estava livre dos tropeços e impedimentos patriarcais do zen japonês tradicional. Isenta de pretensões ou vaidade, ela leciona uma forma de zen que manifesta o antigo princípio Chan do wu shih – “nada especial”. Depois de ter se mudado para San Diego, ela não raspa mais a cabeça e poucas vezes veste mantos ou usa seus títulos. Ela e seus alunos estão desenvolvendo um zen americano nativo que, embora rigoroso e disciplinado, está adaptado a temperamentos e modos de vida ocidentais.

Os pronunciamentos dharrna de Joko são modelos de uma simplicidade incisiva e de um senso comum perspicaz. Sua própria existência de lutas e crescimento e seus muitos anos de compaixão sensata em resposta aos traumas e às confusões de seus alunos originaram nela tanto uma espantosa capacidade de insight como a presença pedagógica de frases hábeis e imagens ricas. Seu ensinamento é bastante pragmático, menos voltado para a busca concentrada de experiências peculiares e mais dedicado ao desenvolvimento da compreensão relativa à totalidade da vida. Claramente ciente de que uma abertura espiritual intensa induzida de modo artificial não assegura uma vida organizada e compadecida (e pode inclusive ser prejudiciaI), Joko mantém uma distância cética em relação a todos os esforços musculares de superação das próprias resistências e diante de todos os atalhos para a salvação. Ela prefere um desenvolvimento mais lento, saudável e responsável da personalidade como um todo, no qual os obstáculos psicológicos são confrontados em vez de ignorados. Um de seus alunos, Elihu Genmyo Smith, reflete o modo como sua mestra pensa com a seguinte descrição:

“Existe uma outra forma de prática que chamo de “trabalhar com todas as coisas”, incluindo as emoções, os pensamentos, as sensações e os sentimentos. Em vez de afastá-los ou mantê-los à distância com o uso da mente, tornando-a uma espécie de muro de ferro, e perfurar seu cerco com nosso poder de concentração, abrimo-nos para tais vivências. Desenvolvemos nossa percepção conscientes do que está ocorrendo a cada momento, de quais pensamentos estão surgindo e passando, de quais emoções estamos sentindo, e assim por diante. Em vez de uma concentração de foco estreito, a nossa é uma conscientização extensa.
O foco consiste em tornando-nos mais conscientes e despertos para o que está ocorrendo “dentro” e “fora”.”

No sentar, sentimos o que é, e permitimos que isso prossiga, sem tentar contê-lo, analisá-lo, afastá-lo. Quanto mais enxergamos com nitidez a natureza de nossas sensações, nossas emoções e nossos pensamentos, mais seremos capazes de enxergar naturalmente através deles”.

Agindo a partir de uma noção de igualdade, Joko considera-se mais uma guia do que um gurú, recusando-se a ser posta em qualquer pedestal. Em vez disso, partilha as próprias dificuldades existenciais, criando dessa forma um ambiente de trocas que fortalece, em seus alunos, a capacidade de buscar seu próprio caminho.

Por Leonore Friedman3

“Mulheres Notáveis”
por Lenore Friedman

Tradução de Tenzin Namdrol

Capítulo Quatro
JOKO BECK

Uma silhueta feminina
Uma cabeça raspada
Presente.
Um sorriso por sorrir
Informa a sua coluna, fronte,
Pomo dos dedos, inclina o pescoço
Assim como a memória nas vísceras
Do toque da sua vara disciplinar.

Sem que um só osso se mova
E nada lhe escape
A visão da coruja penetra as dez direções
(penas arrepiadas ao vento,
folhas enregeladas na noite)
Um vôo picado, gosto de camundongo.
No bosque a gazela sangra
O caçador regressa ao lar.

No quarto de cima
Duas almofadas no chão
Reverenciamos, conversamos na claridade do ar.
Nada deixa de ser observado
Nada é relevante.
Numa bandeja de lacre é servido o chá.
O culto do belo é descartado
Como cabelo aparado.

–Lenore Friedman

Entre as muitas fotografias de mestres e de centros de prática de budismo da costa do Pacífico, houve uma que me chamou atenção. Havia fotografias de meditantes solenes, diante de uma parede nua, as costas retas e os rostos sensíveis. Figuras, ora em jardins, ora diante de altares, envoltas em estampas de hábitos cerimoniais; entre elas, cenas esdrúxulas: monges lavando pratos num quintal sob o sorriso plácido de um Buda que contempla uma garrafa de detergente líquido.

Charlotte Joko Beck

E ainda a fotografia singular de uma mulher, de pé, dos joelhos para cima, que poderia ser a vizinha ou uma tia, no meio de uma rua comum, com carros estacionados e um correr de casas de um só pavimento desaparecendo à distância. Como será que esta foto veio parar aqui? Observei bem as feições, reconheci-a e compreendi. Joko! Completamente diferente de quando a vira pela última vez em hábitos negros e cabeça raspada, luzidia. Fiz uma reverência à foto que captou a sua essência genuína. A simplicidade de Joko encarna a qualidade Zen “nada de mais”; está simplesmente presente a cada instante tal como é.

Nesta rua de um bairro nada especial, numa casa nada especial, têm lugar, umas após outras, as práticas do Centro Zen de San Diego—meditar, caminhar, salmodiar, reverenciar, ensinar o dharma, fazer sesshins a cada mês. No sesshin de fim de semana a que estive presente, antes do nascer do sol, a fila de kinhin saiu em silêncio pela porta dos fundos, contornou a casa e foi para a rua dando uma volta completa ao quarteirão de casas às escuras e vizinhos adormecidos. O que poderia parecer exótico, estava imbuído de simplicidade—a caminhada em nada diferia dos sonhos dos que ainda dormiam.

No período de trabalho, enquanto enchia almofadas com paina, Joko passou vestida de moletom azul claro (no zendo, e durante os períodos de daisan, veste uma simples saia longa e blusa). Em dezembro de 1984, colocou de parte seus hábitos japoneses. A opção fazia parte de um estudo pessoal prolongado “para constatar se os muitos aspectos da prática formal serviam de suporte para o despertar ou levavam à aquisição de ainda mais hábitos”, dizia a circular mensal do Centro. Um ano depois, comentou: “deixar de usar hábitos tem seus inconvenientes, não são apenas vantagens. O hábito do praticante Zen tem algo de belo, confere dignidade ao zendo quando é usado pela maioria, mas fica estranho sair nestes hábitos vetustos pela cidade”.

Sobre a cabeça raspada, comenta: “para mim tanto faz se está raspada ou não; mas como estou sempre ocupada e saindo a toda hora, não me agrada, sempre que vou à rua, ter de cobrir a cabeça com um lenço. É bobagem então, porque haveria de fazer? Contudo, considero um bom treinamento passar um ano, digamos, de cabeça raspada, só não é preciso amarrar-se a esta idéia”.

Joko não se cansa de esvaziar as tentativas dos seus alunos de coloca-la num pedestal. “Sou aluna tanto quanto você”, disse ela que já teve sua almofada marrom forrada de preto, como usa o mestre. Pode mesmo não sentar no lugar do mestre. “Sento-me em qualquer lugar diante da parede”, e não admite tietes. “As pessoas gostam de projetar seu poder no outro”, comenta, “mas não admito”. Se a necessidade do aluno é incontrolável, prefere que se ausentem por um tempo e pode acrescentar: “sem me conhecer, me atribui uma porção de coisas, o que não é bom, vamos deixar disto.”

O que não quer dizer destituir a autoridade do mestre, mas Joko não permite que se confunda autoridade e autoritarismo. Trata de manter sua autoridade eliminando a hierarquia. “Tento terminar com todas as pequenas reverências que me dirigem todo o tempo. Ser cortês, sim, mas estas reverências a outro ser humano como se ele ou ela fosse muito superior não fazem bem a ninguém. Estou tentando expurgar o mestre do papel de super homem que lhe é muitas vezes conferido. O mestre é um guia, não é uma figura mágica ou heróica”.

No zendo, Joko raramente oficia as cerimônias. Não existe um oficiante; todos participam naturalmente, sem pretensões. As tarefas importantes do zendo como a de marcar o tempo das sessões e tocar o sino são rotativas. Os alunos mais antigos são solicitados de não se evidenciarem. A marca de um aluno avançado é de que, muitas vezes, o trabalho que faz não é visível, mas se alguém se apega à invisibilidade como uma marca de realização, Joko esvaziaria também esta noção.

Durante o fim de semana que passei em San Diego, ensinando e também em entrevistas informais, Joko apontou várias possíveis distorções da prática Zen. “Pensamos demais em alcançar uma visão do absoluto” disse, “o que é uma consideração prematura para a grande maioria. Mesmo quando acontece alcançar, não sabem o que fazer com ela. Para alguns o choque é forte demais”. Seu primeiro objetivo é certa maturidade no desenvolvimento, que torna possível a realização. Quando a mente esquece seus apegos, “muito naturalmente aumenta o que se chama samadhi e, num momento dado, pode-se alcançar a visão do absoluto. Não é uma meta para ser atingida, porque acontece naturalmente com a maturidade da prática. Se acontecer, voltamos logo à prática básica”.

A prática básica é lidar com o apego, ainda que tudo seja apego. É aqui que se instala o ego e a prática, segundo Joko, consiste em retornar permanentemente às ações do dia a dia e inquirindo: “o que está acontecendo aqui mesmo? Como é que devo observar? Como é que devo meditar? A que é que estou apegado?” A divisória entre esta busca e a psicoterapia não é muito nítida, mas faz uma enorme diferença para o praticante dedicado, porque conduz à transposição radical da auto-imagem. Passa a haver sutileza e capacidade de observação que fazem do processo algo completamente aparte. Chega um momento em que a profundidade e a intensidade do processo vão além da terapia”.

Joko quase nunca faz alusão às experiências do despertar. “Se tivermos por meta o samadhi podemos alcançar uma espécie de vacuidade, mas não é a autêntica vacuidade porque o meditante não está verdadeiramente vazio. Se no nosso dia a dia manipularmos ou explorarmos os outros, se buscarmos poder, o samadhi—o que pode ser alcançado muito artificialmente—não é, quanto a mim, o verdadeiro samadhi”.

“É possível alcançar samadhi e se apegar a ele, penso”, disse eu.

“Claro!”, respondeu. “Quase todos se apegam ao próprio samadhi! Samadhi é como se fosse uma proeza esportiva, e há quem recorra e ele para evitar o sofrimento”.

“Passa-se por cima do sofrimento para chegar ao samadhi?”

“Sim, sobretudo se o poder do samadhi for artificial, será possível mantê-lo durante todo o dia; poderá mesmo parecer autêntico se não surgir qualquer tipo de tensão, mas sob tensão tais samadhis se revelam bem frágeis. É preferível lidar primeiro com as idéias que temos sobre o que se passa em nossas vidas, com todos os apegos. Partindo desta prática, com o tempo surgirá o samadhi e a compreensão autênticos”.

“Quer dizer que para cada praticante existe um tipo de prática?”

“Correto. Quando ensino não falo muito. Quando vêm para o daisan, costumo perguntar, ‘então, o que surgiu hoje na mente? O que você quer comentar?’ Então eles falam, eu ouço o que está acontecendo e posso então apontar: ‘reparou no que você disse? Quer elaborar um pouco?’ e então, aprofundamos.”

Perguntei onde tinha aprendido está técnica.

“Passei anos conversando com os praticantes, anos e anos. É impossível transmitir exatamente o que seja para outra pessoa—é preciso ter passado pela experiência. Também não creio que passar todos os koans seja muito válido; ainda que possa ter o valor de um diploma para quem queira ensinar”.

“Sobre Mu? Certos mestres consideram ser preciso passar este koan.”

“Alguns novatos já me disseram que o seu koan era Mu, mas em geral consideram mera abstração enigmática sem qualquer relação com suas vivências. Mu é simplesmente a própria vida, aqui mesmo, agora mesmo. Quando o seu filho preocupa, é Mu; quando investigar o assunto estará investigando Um, não está em nenhum outro lugar. Na prática tradicional dá-se este koan para o aluno meditar no mistério. Enquanto se empenha em resolve-lo, viaja por todas as partes de si mesmo. Para alguns funciona. Contudo, cada vez mais, quando ouço as histórias passadas nos mosteiros antigos duvido um pouco. Chegavam a ter milhares de monges e ouvimos apenas o relato de um notável que conseguiu; não falam nos demais novecentos e noventa e nove. Tenho certeza de que muitos deles não tinham qualquer idéia do que estavam fazendo”.

“Pode não ter ser sido apropriado, mesmo então?”

“Duvido que tenha sido, exceto para poucos. Muitos monges iam e vinham e não sabiam o que estavam fazendo, mas não se ouve falar sobre o assunto. Agora, meus alunos passam Mu, não ouvem a palavra, mas passam. A palavra não importa, se a prática é sincera e intensa chega-se a um ponto de compreensão do que seja a vida. ‘Então é isso!’ Se a mente está vazia e tranqüila—pronto, aparece. É lógico que não existe nada além de Mu, mas observo que muita gente não está preparada, nem interessada, nem é capaz de lidar com a natureza da realidade suprema—que é sua própria natureza, claro. É preciso um grande empenho e séria busca”.

“Precisamos recorrer à forma mais adequada para cada um. Estou tão interessada nos alunos com sérias dificuldades quanto com os chamados “bons” alunos. Poder beneficiar uma vida que pode vir a ser mais firme e tranquila—mais “verdadeira”—é a minha maior satisfação. Assim observo e ouço cada aluno para saber quem está meditando ali. Depois, ajo conforme o que encontrei, posso ser gentil ou severa, depende do aluno. Precisamos nos converter num espaço em branco e para tanto adaptar a uma coisa e a outra e a outra ainda”.

“Da sua parte não existe qualquer tipo de manipulação”.

“Claro, nenhum!”

*****

Joko, então Charlotte, já passava de seus quarenta anos quando ouviu falar em Zen. Como Maurine Stuart e Roshi Kenneth, fora muitos anos pianista. Fez o bacharelato em música no Conservatório de Música de Oberlin. Foi casada treze anos, mas divorciou-se após o segundo esgotamento nervoso do marido, quando tinha quatro filhos de 1 a 12 anos. Tinham vivido na costa do Atlântico até então, mais recentemente em Connecticut e Michigan, onde se credenciou como professora. Mudaram-se para a Califórnia quando Joko passou a sustentar a família com sua nova capacitação. Constatou que não conseguia associar a atividade com a educação dos quatro filhos e aprendeu, sozinha, a bater à máquina, foi secretária na Convair e mais tarde assistente administrativa na Universidade da Califórnia em San Diego, primeiro no departamento de música e mais tarde no departamento de química, onde trabalhou durante muitos anos.

Uma tarde em 1965, mais ou menos por acaso, ela e uma amiga entraram na Igreja Unitária de San Diego onde assistiram aos ensinamentos de um monge budista. “O monge saudava cada pessoa à entrada com uma reverência. Algo nele chamou a minha atenção, impressionou-me muito. Estavam presentes muitos intelectuais que tentaram desestabiliza-lo com perguntas filosóficas elaboradas. Atencioso respondeu muito bem a todas as perguntas; era óbvio que estava se divertindo. Por mais que fizessem para o tirar do sério ele parecia imperturbável. Pensei, ‘interessante, nunca vi ninguém assim’. No trabalho tratava com as mentes mais brilhantes da costa do Pacífico, mas nenhuma era imperturbável!’ Soube depois que o monge era Maezumi Roshi (Sensei, então) do Centro Zen de Los Angeles—e foi assim que Joko encontrou o Zen”.

Duas outras pessoas já praticavam zazen em San Diego, Joko era a terceira. Aproximadamente uma vez por mês Maezumi Sensei vinha de Los Angeles ajudar o pequeno grupo a praticar e, em média, duas vezes por ano, Joko ia a Los Angeles. Nos anos sessenta, participou de sesshins dirigidos por Yasutani Roshi, que viajava do Japão para o norte da Califórnia duas vezes por ano e que muito a impressionaram. Um ano depois, veio Soen Roshi com quem passou o koan Mu, reagindo à experiência atirando um objeto qualquer na direção do mestre.

“Pode parecer estranho agora”, comenta, mas estava mesmo muito zangada com ele. Como é muitas vezes o caso, leva apenas uns minutos para que a mente condicionada reassuma e destorça a realização”. Logo após ela começou o estudo formal de koan com Maezumi Roshi em Los Angeles. Durante cinco anos, trabalhando os koans, Joko viajava constantemente de San Diego a Los Angeles e freqüentou muitos sesshins. Em 1976 decidiu antecipar a sua aposentadoria e mudar-se para Los Angeles, onde a filha Brenda freqüentava a universidade UCLA. Brenda tinha começado a meditar e viviam juntas no ZCLA.

Joko foi sempre muito procurada pelos alunos, atraídos pela sua maturidade, simplicidade, sensatez e capacidade de raciocínio. Em números crescentes vinham se aconselhar sobre suas vidas e práticas. Quando fiz uma visita a Joko no ZCLA no verão de 1983, ouvi seus alunos falarem sobre ela com emoção, muitas vezes com lágrimas nos olhos.

“Com Joko nos sentimos num vasto espaço, muito aberto”, disse-me um deles. Sempre sem rigor e como uma seta, ela vai ao centro da questão respondendo de forma incisiva e lúcida. Todos respeitavam sua experiência, sabiam que sofrera e que era, sobretudo, humana. Por ter lutado muito, tornara-se uma pessoa accessível, disseram-me. Apesar disso, Joko vê através de todos os enganos e dissimulações. “É impossível engana-la”, conhece todos os truques atendentes à natureza humana, todos os recursos que temos para nos iludir. Uma inteligência nata e uma visão penetrante dizem ser seus “vastos, vastos dons”.

“Foi com relutância que Joko se fez mestre de dharma”, disse-me um aluno. Era como se tivesse de ser empurrada, mas ensinava espontaneamente. Estava sempre rodeada de gente inspirada pela sua dedicação e diligência em aprofundar a prática. Um dia Roshi decidiu que seus ensinamentos informais seriam transplantados para a estrutura formal do zendo. Mas quando disse: “Ensina!” era como se fosse preciso arrastar um noivo até ao altar. Quando raspou a cabeça, dizem que ficou atemporal, como se algo associado à sua identidade tivesse desaparecido.

Uma e outra vez, expressões como “corte”, “penetrado”, “viravolta”, eram utilizadas para descrever a visão profunda de Joko derrubando sistemas mentais arraigados. Com uma afirmação corriqueira, diziam dela, “vira as pessoas pelo avesso”. Seu estilo despretensioso só aumenta o poder da sua espada da sabedoria, cujo reverso é sempre a compaixão.

Em 1978 Joko tornou-se a terceira herdeira de Maezumi Roshi. “Não pensem que a transmissão do dharma é algo de místico,” disse-me. Significa apenas que chega o momento em que o mestre sente que a sua compreensão e a do aluno são idênticas. “Não é nada demais”, comentou. “Acredita-se que seja muito especial, que os céus se abrem ou coisa assim, mas só quer dizer que o aluno está apto a dar apoio aos praticantes e explicar o básico sobre a vida e a morte”.

Com o passar do tempo, contudo, Joko começou a questionar os métodos tradicionais de ensino. Tinha muita curiosidade e interesse em conhecer e experimentar os métodos de outros mestres de outras tradições e de disciplinas como a psicologia e a psiquiatria. Começou a sentir suas semelhanças e complementaridades. Ao mesmo tempo, a “monumental confusão” na mente de muitos de seus alunos a preocupava. Começou a suspeitar de que o treinamento Zen clássico—ter como objetivo único a concentração da mente—não era proveitoso para todos e para alguns podia ser prejudicial, permitindo passar ao largo de pendências que precisavam ser examinadas.

Para Joko, praticar é conviver com o que quer que se passe a cada momento. Permanecer no corpo, permanecer com as sensações corporais que aparecem e desaparecem. Por exemplo, o que é a raiva? Se não considerarmos o pensamento ou a imagem que aparece na mente, diz ela, a raiva é pura informação sensorial corporal. Sente! Medo? Sente o medo!

A prática é trabalhar todas as emoções, diz Joko, e lidar com elas é fundamental. Por si mesmas, as emoções não representam um problema, mas quando nos apegamos ao conteúdo dos pensamentos, elas obscurecem a vida tal como ela manifesta. “É aí que a coisa pega. Mostre-me quem não passe por isto. Conhece alguém? Estamos todos fascinados pelas nossas emoções porque pensamos que somos as emoções. Cremos que se nos desapegarmos das emoções não seremos ninguém, o que é verdade!” A pergunta é a seguinte: o corpo comanda o cérebro ou o cérebro comanda o corpo? Quando o cérebro comanda o corpo ficamos ansiosos e tensos, quando o corpo comanda o cérebro tudo flui melhor. A prática vai adequando nosso sistema a esta verdade.

Zazen nos ensina a permanecer no presente, voltando sempre ao presente. “Quando nos abandonamos às nossas idéias, esperanças, sonhos… voltamos—não apenas uma vez, mas dez mil vezes se for preciso, um milhão de vezes se for preciso. É apenas isto, a paciência para dedicar-se unicamente a este empenho, mas também coragem, o que resume a aspiração do bodhisattva”.

A paciência, a dedicação são verdadeiras conquistas. A última coisa que queremos é ser quem somos e então a verdade da vida nos escapa. Todos, diz Joko (ela também) erramos ao rejeitar a vida tal como ela se apresenta, aqui e agora, e isto conduz à ansiedade fundamental que assombra as nossas vidas.

“Neste instante”, nos roga, “seja apenas o que você é. Cada um de nós é uma jóia preciosa, como fazer para dota-la de todo o seu brilho? Sendo o que seja a nossa vida a cada instante: esta é a jóia, isto é o nirvana”.

O que não pressupõe mudar nem examinar as dificuldades que surgem em nossas vidas. Na verdade, a melhor forma de mudar é permanecer completamente com o que está acontecendo, tal como está acontecendo. “Se estivermos completamente dispostos a permanecer com o que está acontecendo, diz ela, e cada vez que entrarmos em sofrimento, deixarmos ficar como está, começamos a poder ver cada vez mais longe e melhor. E quanto mais estivermos vendo—mais nítida será a nossa visão—melhor saberemos como agir, tanto pessoalmente como na ação social”.

“Dirigindo-me a inúmeros praticantes, o que chama mais atenção é não compreenderem o sofrimento; claro que, muitas vezes, eu tampouco compreendo e tento, tanto quanto qualquer outro, evita-lo”. Contudo, num ensinamento em 1983 durante um sesshin no Yasutani Roshi Memorial, ela fez uma distinção entre o sofrimento falso e o verdadeiro. O sofrimento falso, disse, é quando nos sentimos esmagados, como se o sofrimento viesse de fora de nós mesmos. O verdadeiro sofrimento é simplesmente carrega-lo, não nos opondo, absorvendo-o e unindo-nos a ele. Passamos a ser sofrimento.

“Claro que se você se parece comigo, vai evita-lo tanto quanto possível—porque, no que toque esta prática, é mais fácil falar do que colocar em prática. Mas, quando ela é colocada em prática, sabemos visceralmente quem somos e quem cada um é, fazendo desaparecer a barreira entre nós e os outros”.

A mente que gera o sofrimento falso surge constantemente no sesshin. “Todos somos vulneráveis. Ontem à noite, antes de começar o sesshin, ouvi minha mente queixar-se: ‘Outro sesshin?! Você acabou um ainda na semana passada!’ é assim que funciona a nossa mente. Depois de ouvir este contra senso nos perguntamos, ‘o que é que quero verdadeiramente para mim mesma ou para qualquer pessoa?’ e então a mente sossega e com carinho voltamos ao momento presente. Então o enfoque e o samadhi se aprofundam. “Em zazen a renúncia do bodhisattva é a prática, deixar de lado as fantasias e sonhos pessoais e estar presente ao momento. Num sesshin, cada momento que praticamos assim nos dá o que não alcançamos de qualquer outro modo: o conhecimento de nós mesmos. Então, estamos de frente para o momento; estamos diante do sofrimento. E quando estamos finalmente dispostos a ficar ali sabemos, não é preciso que nos digam, o que somos e o que tudo o mais é.”

Dois anos depois, em San Diego, em 1985, Joko deu um ensinamento sobre a valorização da vida quando não se tem mais esperança. “Parece terrível, não é? Mas uma vida sem esperança é tranqüila, alegre e compassiva. Os que praticaram a meditação por um tempo vêm que não existe passado e futuro senão na mente. Só o Self existe e Self está sempre presente. Não está escondido. Corremos como loucos atrás do que se chama Self, o misterioso e oculto Self. Onde está escondido? Temos a esperança de que alguma coisa vai cuidar do nosso pequeno self porque não sabemos que já somos o Self. Não existe nada ao redor que não seja o Self. O que é que você persiste em procurar?”

O paradoxo é que quando assumimos por complete a dor, a alegria, a responsabilidade de viver a nossa vida—abarcando esta totalidade—somos livres. Não vivemos de esperança nem necessitamos de mais nada. Contudo, quando nos alimentamos de sonhos ou de esperanças, a maravilha que é o homem ou a mulher (singelos, sem glamour) sentados ao nosso lado nos escapa. Esperando que nos aconteça algo de “especial”, não reconhecemos o milagre da vida tal como ela é.

A prática verdadeira não tem nada a ver com esperanças ou fantasias. “Repetimos, zazen é a iluminação. Porque? Porque meditar, um minuto após o outro, é a iluminação. Será preciso dar tudo de nós mesmos para praticar assim. Qual será o proveito? A resposta claro, é nenhum. Então, não alimente qualquer esperança. Alcançará a vida, o que aliás já tem. Isto é o nirvana. Ou, onde é que você pensava que era?”

Joko não cessa de nos lembrar que a experiência direta da vida significa a experiência das sensações corporais. Quanto mais mantivermos a atenção no que se passa no corpo e não nos processos mentais (repensando a experiência, analisando-a, preocupando-nos com ela), mais “nossas expectativas murcham e secam como folhas mortas, levadas pelo vento.” Então surge uma nova vida, sem excrescências, momento a momento permitimos que a vida seja o que é. “Nada elaborado, nada dramático, tudo simples.” Nossa verdadeira natureza. É isso aí.

No outono de 1983 Joko renunciou formalmente sua posição no ZCLA para assumir o Centro Zen de San Diego, uma sangha crescente que surgiu dos três elementos que começaram a praticar juntos em meados dos anos sessenta. Sua velha amiga e assistente, Elizabeth Hamilton viajava regularmente entre San Diego e Los Angeles preparando as bases para a organização.

No começo Joko agia como sempre tinha feito em Los Angeles. Antecipava mudanças, mas não queria pressa porque sabia que o processo em si era muito importante. Mesmo antes de mudar-se tinha reconhecido que o Zen no ocidente teria de mudar. “Mas sem pressa”, disse na nossa primeira entrevista. “Muitas das exigências tradicionais não são destituídas de sentido. Surgiram por boas razões: o formalismo no zendo, por exemplo—o rigor—tem o seu papel. Quando se é muito informal, o zendo perde o rigor. Não podemos admitir que tudo o que seja tradicional seja indesejável por parecer estranho, não podemos ser tão radicais. Se em relação à tradição dissermos: descarta tudo! Vamos encontrar dificuldades. Por exemplo, surpreende-me sempre a transformação que observo nas pessoas depois de um longo sesshin; ficam mais abertas, mais autênticas. Algumas das atividades mais tradicionais têm muito a ver com a transformação. Claro que algumas das práticas tradicionais podem ser descartadas ou mudadas mas precisamos tomar cuidado, ainda que eu própria seja bastante informal, valorizo o treino formal que tive e como pode ser útil.”

Em Los Angeles Joko já iniciara uma nova abordagem e recorria a uma gama maior e recursos. “Até estar bastante fortalecidos, não temos grande poder de introspecção. Com o fim de fortalecer o aluno usamos as técnicas vipassana, ou as técnicas clássicas do Zen (incluindo koans) ou muitas outras abordagens, conforme as necessidades do aluno. É assim que transmito os ensinamentos hoje, mas pode ser que faça ainda mais mudanças”.

Em fevereiro de 1984, Joko deu início a uma série de reuniões no ZCSD intituladas “Como deveria ser a prática Zen na América?” Todos (sobretudo os que meditavam há uns anos) estavam convidados a avaliar a prática com sensibilidade e de forma abrangente) considerando e questionando tudo, desde a roupa até ao formato da sessões. Nada era sagrado”. As reuniões eram animadas, sobretudo no começo, mas ficou logo evidente que metade dos participantes queriam manter tudo como estava e a outra metade queria inovar. “A resposta era que eu teria de fazer o que achasse melhor!”

Joko sorriu. Estamos no seu apartamento numa casa atrás do zendo, depois do seshin. Estávamos em fevereiro 1985. A questão não é tradição ou inovação, disse. A questão é o que mais contribui para a vitalidade da prática? Toda e qualquer mudança terá de partir deste pressuposto.

Uma mudança que observei foi a eliminação da prosternação durante o daisan, substituída por três reverências. Joko comentou que estavam levando a cabo uma mudança a cada mês! A seguinte seria a substituição da estátua tradicional do Buda no altar por uma pedra bruta que sugerisse vagamente a figura do Buda. “A pedra é vida, que é o que representa o altar. Mais uma vez, qualquer coisa pode ser mudada que atenda às necessidades da prática. A próxima vez que você vier a San Diego pode estar diferente outra vez. Podemos ter revertido ao tradicional, mas não creio…”

Mais tarde comentou, “questiono tudo. Não pretendo mudar nada no momento, mas questiono considerar sagrado qualquer formato para o sesshin, estou disposta a rever tudo. O que faço é pensar e sentir e deixar que role. Nada disto é sagrado. Conduzi um sesshin recentemente na cidade de Nova York e, no começo, fiquei horrorizada. Como não podiam preparar comida para muita gente, comeram num restaurante e funcionou muito bem. Mantiveram silencio. Estou aprendendo que vale reconsiderar o que quer que seja”.

“No último sesshin fizemos o kinhin final à beira da praia para onde fomos de carro e lá caminhamos em silêncio ao longo do mar durante uma hora, depois, voltamos para o zendo cantar o Sutra do Coração e foi maravilhoso. Imagine ao fim de um longo sesshin, ouvir o barulho do mar durante uma hora! Quem disse para meditar só de uma maneira? Existem limites, é claro, sejam nas mudanças relativas à forma quanto à própria meditação. Todas as mudanças precisam estar calcadas numa compreensão nítida do que seja a prática, “Caso contrário, teremos um circo. Nossos sesshins podem não ser muito requintados, mas não são um circo. A meditação é forte e, apesar de tudo o que digo, aqui ainda se parece com um centro Zen.

O objetivo da prática não é recorrer à hierarquia ou cerimonial ou hábitos como veículos de apego ao ego. Joko considera que muitos zendos são, lamentavelmente, a própria imagem do ego em ação (membros arvorando importância ou competindo) e que muitos mestres Zen investem pesadamente em poder e autoridade no papel que desempenham. Em outras palavras, o que a verdadeira prática ensina, observar (o ego em ação), está sendo cultivado às cegas.

“Parece fazer parte da natureza humana recorrer a qualquer conveniência, rituais, por exemplo, e torna-los rígidos ou sólidos. Quando solidificamos ou enrijecemos o ego, temos problemas. Mas se um ritual se torna por demais rígido precisamos lidar com a rigidez até alcançarmos uma realidade mais aberta e fluída. Tudo o que é vida é fluxo entre um e outro pólo—nada de errado nisso. Eu prefiro uma estrutura aberta e informal por inclinação, e como conseqüência, posso me deparar com problemas. Mas assim é a vida, lidar com “qual é o problema que temos neste instante? O que pode ser feito agora?”

“Costumava ensinar como todo mundo”, disse. Ela dava o koan Mu, desafiando o aluno na forma tradicional: “O que é Mu? Vai fundo!” mas não mais. Os alunos diferem muito, diz. Alguns precisam estruturar o ego e não desfaze-lo. Alguns precisam de aconselhamento. Outros estão prontos para progressivamente desmantelar a estrutura do ego, o treino clássico Zen. “Contudo, cada vez mais me dou conta de que fortalecer o ego (considerado o objetivo parcial da terapia) e esboroar o ego (considerado o objetivo Zen) se mesclam e chegam a um compromisso feliz quando nos empenhamos com constância na observação de nossos apegos”.

Joko quer saber tudo sobre seus alunos e o fato é que consegue. Ela pode, digamos, ao mesmo tempo, aconselhar o marido, a esposa e a amante. Examina com cada um os apegos do ego que subjazem o triangulo e que, vistos com clareza, tendem a dar lugar à solução.

Pode acontecer de alguém se aproximar e dizer que está obcecada por um novo namorado. Joko dirá, “Ótimo, obceca, mas presta atenção à obsessão. Já alguma vez observou como é que você obceca? O que é que vai na sua cabeça? Como sente o seu estômago? Acorde—não perca nada!”.

Logo os alunos começam ensinar uns aos outros. Ela dirá: “Agora, você é o mestre,” e apresenta uma dificuldade: “Imagine que está confrontando três novos membros e um deles pergunta, “De que trata a prática Zen? Que motivos teria para me dedicar a ela?” O que você diria? Se o aluno responde, “não saberia o que dizer”, Joko dirá, “Claro que sabe—e quero que a sua prática garanta esse conhecimento e que possa ser claramente expressado. Quando vier na próxima semana quero saber como você transmitiria o que sabe”. Assim, Joko ouve, ouve, ouve. “Aprende-se muito assim!” e a prática dos alunos é vitalizada.

“Quero que os alunos percebam o sentido da prática. Quero que se questionem (mesmo durante muitos meses): Por que coloco tanto empenho? O que representa para mim? Qual é o sentido de tanto esforço? Por que levantar uma hora mais cedo para praticar?”

“Todos sabem—basta começar a ouvir com atenção para descobrir como fazer com que me digam o que sabem, o mestre tem habilidade para leva-los a responder estas perguntas. Somos nossos próprios mestres, sabe? O mestre externo nos conduz ao mestre interno”.

É fácil ver que Joko gosta de ensinar. Após horas de daison, durante sesshin sua energia não terá diminuído, muito pelo contrário ela fica energizada.

Estávamos chegando ao fim da minha visita a San Diego e ainda tinha uma pergunta insistente.

Lenore: ;Gostaria que você me desse uns minutos para esclarecer o que disse no daisan ontem.

Joko: Claro.

Lenore: Você perguntou sobre a minha decisão interior e eu disse que desde que era menina minha decisão interior era de ser uma boa pessoa. Depois adiantei um pouco mais e disse que me via contraindo e me tornando muito pequena, quase não aparecia, certamente sem exigências—e você disse que tinha a ver com o que você estava buscando, mas não sei se entendi bem.

Joko: Ser uma boa pessoa faz parte da estrutura do ego de que falamos. Chega um momento em que constatamos ser impossível sobreviver neste universo a menos que se desenvolva uma estratégia. Para alguns, a estratégia é ofensiva; para outros é ficar pequena e invisível. A sua estratégia é ser uma boa pessoa, ter uma boa aparência e agradar a todos. Contudo, a estratégia fundamental de todos será sempre: vou me proteger, de qualquer maneira e não quero saber a que preço. Com o tempo, esta estratégia se torna a decisão de base que norteia a nossa vida (o ego) porque não temos consciência dela. A nossa prática (atenção) é estar perfeitamente consciente disso, não racionalmente, mas em cada célula óssea de nosso corpo.

Lenore: Quer dizer que as sensações corpóreas indicam o que se passa na estrutura egóica?

Joko: Sim. Por exemplo, o que você descreve—este encolher até chegar quase a desaparecer—você não estaria agindo assim se não fosse a manifestação de uma decisão. Houve um momento em que você decidiu que a única forma de sobrevivência seria de recorrer a esta estratégia. Você aprendeu (provavelmente sem ter consciência do que fazia) que sentindo-se ameaçada você encolheria. E o que você aprendeu na vida até agora é agir desta forma. Ir ao encontro de qualquer ameaça como?

Lenore: Desaparecendo.

Joko: Certo. Claro. O que fazemos na prática é aumentar a consciência da atividade incessante do ego. Quando meditamos com inteligência estamos fazendo isto, clarificando a estratégia do ego—conscientes das sensações no corpo, ouvindo nossos pensamentos desordenados—o que nos permite observar como esta estratégia domina nossas vidas. Só então é que podemos verdadeiramente avaliar que este tigre que nos tiraniza é vazio e que não precisamos estar a mercê de nada tão irreal. Nossa decisão pode não ter sido tola então, mas agora é tola e inadequada. Já não é necessária.

Lenore: De certo modo já não é—mas também é!

Joko: Mas é assim, para nós todos.

Lenore: Sim, dá para ver e quanto mais olho mais vejo.

Joko: Então resta saber como praticar com o que surge.

Lenore: É exatamente o que quero saber.

Joko: Durante o daisan falamos da importância da busca. O que vejo numa prática de koan eficaz—e creio que foi assim no princípio antes de se tornar muito formal e num sistema quase morto—é de começar a recrear momentos da sua vida para um mestre; fazer de forma a poder ver a estrutura do ego como pensamentos e sensações corporais—em outras palavras, trazer à consciência. Quando estiver tão consciente que você possa examinar a vacuidade, já não dominará mais você. É algo que está em seu poder, um estado de coisas bem diferente. Então você poderá ir soltando, o que quer dizer, ver a vacuidade. Esta prática tem surtido efeito aqui. O desafio para o mestre é de tornar tudo isto evidente e ser cada vez mais hábil na condução da prática. Estou sempre procurando aprimorar e é o que torna esta atividade animada e ao mesmo tempo muito exigente.

No pequeno quarto de fundos da casa de Joko, uma harpa maravilhosamente polida ocupa quase todo o espaço. É o quarto da Elizabeth Hamilton. Sento-me de pernas cruzadas na sua cama enquanto ela pratica um concerto de Bach para harpa que terá lugar brevemente. Um gravador ao seu lado reproduz a orquestra. Elizabeth termina o movimento com um dedilhado hábil comentando que tendo sido uma criança prodígio, toca e se apresenta há muitos anos, contudo, só há pouco é que começou a entender o que é verdadeiramente tocar (quer dizer, ser a música, deixar que ela surja através dela). Fala com a mesma agilidade, precisão e brilho com que toca a harpa.

Elizabeth: Joko ensina que temos que considerar o estrume que faz crescer as rosas em nossas vidas. Precisamos analisar a nossa versão pessoal do sofrimento. Ela nos empurra justamente para o lugar que queríamos evitar praticando o Zen. Talvez tenhamos vindo para cá para sermos iluminados, para evitar a tristeza, ou para que pessoalmente possa vir a ser um self iluminado irradiando luzes da cabeça, mas Joko derruba tudo imediatamente.

Precisamos viver profundamente o que quer que seja para constatar que é vazio. Se estamos evitando o medo nunca saberemos que o medo é vazio, ele vai nos dominar pelas profundezas. Você pode estar em samadhi profundo, vendo a totalidade, mas é quase um conceito porque quando levantar começa tudo de novo, com minas anti pessoal e tudo mais. E quando é criticada ou corrigida explode de raiva; logo agora que estava iluminada!

Lenore: A sedução do samadhi é conceito, mas o samadhi é uma vivência.

Elizabeth: Nem é vivência. Samadhi é o que somos quando estamos meditando no momento presente, abertos a tudo. Um samadhi muito diferente da concentração num ponto só que bloqueia tudo mais. Quando você medita no samadhi que bloqueia tudo você não tem problemas, não tem o sentido da totalidade. Pode ser muito sedutor; pode-se ter momentos de grande insights, mas se não tiver consciência ou estiver presa nos seus condicionamentos, seus nós cegos estão ali mesmo, por baixo do samadhi, no sono restaurador de um bebê de dois anos que quando acordar sai de lá num passo marcial e continua dominando sua vida. Pode-se recorrer ao samadhi como um narcótico, para bloquear pensamentos e emoções e emprestar um falso sentido de realização.

Se observarmos o que vem sendo dito nos passados dois anos sobre praticantes de renome podemos ver como praticar é difícil. Pessoalmente não tenho qualquer interesse em sobre valorizar os iluminados, uma noção que implica permanência e solidez. A questão é apenas se estamos despertos neste exato momento. E neste exato momento. E neste exato momento. E tendo estado desperto em 1975, talvez tão desperto que lhe foi conferido um título, não quer dizer que se esteja desperto em 1985, ou em qualquer situação que se apresente.

Lenore: Mesmo assim nos aprisionamos na idéia que alguém saiba, que saiba mais do que nós e que nos possa explicar ou mostrar o caminho.

Elizabeth: Sim. Tantos de nós suspendemos o nosso discernimento pensando que havia alguém lá fora incapaz de se enganar ou se comportando de forma grotesca “para nos ensinar”, com um propósito. Sinto também ter apoiado estas pessoas…e assim contribuí para a causa colocando-as acima do meu bom senso. É triste ver como nos iludimos tão diligentemente em nome da prática, quando a prática deveria ser o trabalho que esclarece a mágoa, a raiva ou a confusão e propicia crescimento. Talvez os americanos, agora com 19 anos de idade espiritual estejam prontos para deixar a casa e caminhar sozinhos.

Lenore: Você estaria disposta a dar o seu depoimento pessoal sobre tudo isto, de como você e Joko vêm trabalhando juntas?

Elizabeth: Bom, primeiro eu tinha de estar disposta e farta de fingir. Eu já meditava mas nunca sentia raiva, só tinha úlceras, asma e urticária! Tive de finalmente penetrar na minha realidade corporal—quer dizer, eu podia ser o carvalho no jardim, não tinha qualquer dificuldade, mas não conseguia ser eu mesma sem que surgisse uma atitude auto centrada, uma auto defesa. Então comecei a observar o que vinha emergindo. Não foi preciso dizer o que tinha de observar, eu já sabia. Joko sabe que sabemos e é paciente. Ela está disposta a esperar até que sejamos capazes de procurar.

Por exemplo, com meus concertos, há 25 anos que tocava em público, sem saber que sob a desenvoltura da artista estava alguém em colapso nervoso, assustada e com medo de não ser aceita. Tinha separado a audiência do artista (eu), será que vai dar certo? Finalmente fui fundo e constatei o que estava ocultando sob a música! Não culpo ninguém por não querer procurar.

Precisamos ouvir muitas vezes, como ontem pela manhã quando ela disse, “volta, outra vez, outra vez para a realidade do momento presente que está sempre no corpo”. Quanto mais eu passo a ser o tremor, ser os músculos tensos mais existe quietude, ponto de repouso, sanidade, o nada-de-mais.

Houve um momento sublime quando estava meditando havia três meses. No dia 28 de setembro, 1975, jamais esquecerei. Ficou claro para mim que o Sutra do Coração era verdadeiro. Durante duas semanas era óbvio que era mesmo o caso, mas depois começou a passar enquanto a memória que tinha dele ficou mais e mais sólida. Passei os dois anos seguintes tentando recapturar este momento histórico, o que é delusão. Mas nossa visão da prática dá tanta importância a um momento destes que passamos a colar solidez sobre ele. Passamos a ter mais razão ainda de pensar que precisamos proteger alguma coisa, o que é contra producente.

Lenore: Estes momentos de clareza não ajudam a cortar a delusão?

Elizabeth: Bem, não é possível juntar Humpty Dumpty outra vez, direitinho. De certa forma eles são cruciais mas é provável que quando a cortina levanta ela baixa de novo sobre a visão nublada das coisas. É como ser monge; pode ser uma baita viagem egóica. Prefiro não estar usando hábitos agora. O que é um hábito? Isto (tocando o corpo) é o hábito. É fácil passar a ser sectário se consideramos o hábito ornamento do Buda. Quem é você em camisola de noite? Prefiro não ser considerada uma monja budista ou não budista, ou uma leiga, ou o que quer que seja. Estes rótulos já causaram tanta confusão! Pode-se recorrer a qualquer instrumento para remexer a água lamacenta e depois outra vez nunca mais nos lembrarmos.

Lenore: Você pode usar o que quer que seja, pode mesmo usar a prática.

Elizabeth: Com certeza, foi o que fiz! Faço, hei de fazer. Não queremos procurar. Não queremos saber o que estamos maquinando, é humilhante, talvez seja a única forma de algum dia ser humilde.

É interessante constatar que entre os 1.700 koans tradicionais quase nenhum trata de emoções, de atitudes auto centradas ou pensamentos errôneos—exatamente o que domina a vida de quase todos nós. Aprecio muito o fato de que a Joko faz koans das confusões de nossas emoções. Está desenvolvendo koans para alunos que hão de vir. Pode parecer para quem não tenha estudado com ela, que se dirige apenas ao nível estritamente psicológico, mas não é isto, se significa qualquer separação entre o self e o mundo, ou o self e a situação (eu-e-o-meu-problema). Uma boa terapia pode ser preciosa; contudo o objetivo não é levar-nos a realização suprema de que não existe um self separado. O trabalho da Joko associado às emoções é dirigido diretamente ao que surge, como se faz com o koan. Primeiro, tomamos consciência, depois entramos na experiência e finalmente nos convertemos no desagrado (ou confusão, ou raiva) para penetrar a sua natureza. Não quer dizer que vamos agir sob seus efeitos—o que apenas contribui para nos adestrarmos melhor no uso da raiva em vez se nos convertermos em raiva, que não faz qualquer sensação.

Morando com a Joko me inspiro no fato de que ela não sabe nada que eu também não saiba. Ela já atravessou o território da sua própria mente, observou seus mecanismos de reação por muito tempo e pode ser útil como guia para fazermos outro tanto. Ela não se projeta como tendo “chegado”. Aliás, onde é que se pode chegar? Já chegamos!

Ela é vida-centrada e não auto-centrada ainda que não gostaria de me ouvir dizer isto. Mas é um lembrete de que nossas vidas podem realmente manifestar os sutras, os preceitos.

Conhecemo-nos há 15 anos. Ela é uma pessoa comum, comum, comum. É bom ter uma relação mestre discípulo—prefiro considera-la minha consultora—mas qualquer que seja o termo que se aplique não quer dizer que ela seja melhor, ou mais espiritualizada ou qualquer coisa assim. É como um coro grego. Já viu alguma vez uma peça de teatro grego? Os personagens no palco atravessam a ponte e o coro aparece e diz, ‘eles estão atravessando a ponte’. Já está acontecendo, não é preciso que nos digam a menos que estejamos completamente distraídos! Até onde posso ver o papel do mestre é de nos ajudar a ver o óbvio: o imanente e passivo de ser observado agora. Certamente nada de especial.

E pronto, estávamos outra vez no “nada de especial”. Sentada à máquina de escrever, relembrando o sesshin, o movimento das sombras na parede do zendo, o som dos carros, crianças brincando na rua, o canto de um pássaro na madrugada. No café da manhã o gosto de suco fresco de laranja na língua. Num armário estreito uma pilha de almofadas pretas bem cheias. Numa casa amarela comum, numa rua comum.

Mas no interior, sobre a mesa na janela de canto, uma bela Kwan Yin sorria com absoluta graciosidade. Hoje deve estar noutro lugar, e sobre a mesa, apenas uma pedra.



Atualização: Inverno 2000

Desde que o visitei pela última vez na década de 80, o Centro Zen de San Diego cresceu bastante, não em área útil, (continua na mesma casa de então onde decorrem ainda quase todas as atividades, entretanto Joko mudou-se para uma casa adjacente).

Freqüentam os sesshins estudantes de todas as partes do mundo com quem Joko mantém contato telefônico. “Muito se pode sentir e transmitir por telefone”, diz ela)

De fato, foi por telefone que nos comunicamos numa tarde de outono de 1998. Sua forma de ensinar não mudara muito desde que nos vimos anos atrás, entretanto hoje parece ser menos difusa, mais específica, mais sofisticada. Quer dizer poder “ver as coisas de muitos ângulos e dar instruções pertinentes para cada indivíduo”.

Joko respeita cada vez mais as diversidades entre pessoas, a diversidade de motivações, idades, preparação prévia o que influi na sua forma de transmitir. Contudo, a relutância em praticar–permanecer diretamente na experiência de vida no momento presente e sem pensamento–parece universal. “Nem imaginamos como estamos tão pouco dispostos em praticar, mas estamos”. A maneira de abordar estas dificuldades depende de cada praticante.

Sua forma de transmitir revela sensibilidade psicológica, “mas não ficamos por aí, vamos além”. Ela não acredita que esteja “fazendo psicologia” mas para que a prática seja eficaz é preciso auto conhecimento passando por um lento processo de desilusões consecutivas. Não é possível ignorar nossos conteúdos tentando atingir uma abstração.

“Precisamos compreender o conceito peculiar que temos de nós mesmos. “A iluminação não é uma coisa que se atinge, é a “ausência de apego ao conceito de um si-mesmo”.

Joko sente que seus discípulos chegam a patamares em suas práticas, não conseguem avançar e não se dão conta. “O que é isto?” “O que é este apego?” É um koan, “O que é isto?”

A maioria não chega a saber de que consta a prática por pelo menos dois anos, diz ela. Para alguns pode levar dez, doze, quatorze anos.

Aprender como estabilizar a mente a meio altos e baixos tão correntes, leva tempo. Começamos com mais clareza no dia a dia e lentamente vamos construindo os fundamentos.

O ponto crucial é vivenciar este preciso instante da vida em vez de pensar sobre ele. É então que “algo acontece e estamos no absoluto.”

Joko esclarece: “Você está sempre praticando com o absoluto, você entende o que quero dizer?” Aprender a vivenciar diretamente as sensações do corpo, livre de pensamentos, é um processo muito sutil, e conclui “este é o estado iluminado.”

Joko gosta de transmitir os ensinamentos individualmente o que faz sem esforço, nunca é um fardo para ela. “É um prazer ver o despertar das pessoas.” Ela dedica oito horas por semana às comunicações telefônicas com os que moram longe.

“Muitas tolices podem ser superadas por telefone” A verdade é que alguns discípulos esforçados têm se desenvolvido ao longo dos anos quase que completamente por telefone.

Joko tem agora oitenta e quatro anos, ainda faz sesshins de cinco dias e trabalha intensa e pessoalmente com seus discípulos. Elizabeth Hamilton e Ezra Bayda, dois de seus sucessores do Dharma ajudam Joko a administrar os sesshins enquanto dirigem seus próprios retiros.

Três outros sucessores dirigem os centros afiliados em Oakland, California; Champaign-Urbana, Illinois; e na cidade de Nova Iorque. Existem também um centro afililado na Austrália. O Centro Zen de San Diego pode fornecer informações adicionais


  1. Extraído de “Zen Buddhism – Hakuin School”
    (www.ciolek.com/WWWVLPages/ZenPages/Hakuin.html).
  2. Extraído de “Sempre Zen – Como introduzir a Prática do Zen em seu dia a dia”
  3. Extraído de “Meetings with Remarkable Women: Buddhist Teachers in America” de Leonore Friedman


Livros
Sempre Zen – Como introduzir a Prática do Zen em seu dia a dia
Nada Especial – vivendo zen

Textos
A promessa que nunca é cumprida
O casulo da dor
Rodamoinhos e águas paradas
Sem trocas
Seja feita a vossa vontade
Compromisso
Fechar a porta
Ponto de mutação
Dos problemas às decisões
Iluminação
Religião
Nova Jersey não existe
Grandes expectativas
Prisioneiros do medo
Enxergando além da sobrestrutura
Aspiração e expectativa
Correndo no lugar
O eu observador
Está certo
Renúncia
O relacionamento não é um com o outro
Relacionamentos não funcionam
Vivenciar e comportamento
Sem esperança
A busca
Praticando nas relações
Tirando dúvidas
Abrindo a caixa de Pandora
Um continente maior
A recompensa da prática
O preço da prática
O esforço para viver experiências de iluminação
Autoridade
Praticando o momento presente
O que a prática não é
O que é a prática
Dúvidas sobre a prática do zen e sua relação com a vida pessoal
Ideais?
Resistência
O fogo da atenção
O ponto de estrangulamento do medo
O fio da lâmina
Tragédia
Sofrimento verdadeiro e sofrimento falso
A parábola de Mushin
Amor
Falso medo
Não fique com raiva
Receita Zen para o Dia a Dia
Imagens
Algumas Sugestões sobre a Prática
O copo de água
Onde está a solução?
Os seis estágios da prática
O castelo e o fosso
Iniciando a prática Zen

Fonte: Wikipédia (início) e http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=113

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